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Entrevista Rafael Correa

Presidente do Equador faz ataque a EUA, ONGs e mídia

MANDATÁRIO ACUSA ENTIDADES SEM FIM LUCRATIVO DE RECEBER VERBA AMERICANA PARA AÇÃO POLÍTICA E DIZ QUE é 'INACEITÁVEL'

Cecília Acioli/Folhapress
O presidente Rafael Correa durante entrevista no Rio, onde participou da Rio+20
O presidente Rafael Correa durante entrevista no Rio, onde participou da Rio+20

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Em conflito com meios de comunicação privados, que acusa de tentarem intimidar seu governo, o presidente do Equador, Rafael Correa, tem outros dois alvos: os EUA e as ONGs, acusadas de receberem dinheiro americano para fazer política.

"Se querem fazer política, que criem partidos, que não podem ser financiados do exterior", disse à Folha na noite de terça, após a abertura da conferência Rio+20.

Às voltas com protestos indígenas contra a exploração de petróleo e minérios, ele diz que uma minoria quer voltar "a um estado primitivo" e afirma que o documento final da Rio+20 é "formalismo". Não quis comentar o pedido de asilo de Julian Assange, fundador do WikiLeaks.

Correa diz que a relação com o Brasil vai bem e cita a compra de aviões Super Tucano e a adoção do padrão de TV digital japonês-brasileiro. Mas cobra uma visita de Dilma Rousseff a seu país. Leia abaixo trechos da entrevista.

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Folha - Um jornalista equatoriano, Emilio Palacio, pediu asilo nos EUA. Haveria contradição entre dar asilo a Assange e esse caso?

Rafael Correa - Todo país tem direito a dar asilo a quem pedir, sempre que não for por crimes comuns. Palacio era julgado por difamação. Ainda não recebeu asilo, estão processando seu pedido.

No caso de Assange, o senhor considera que a acusação que lhe fazem é política?

Ainda estamos analisando o pedido [de asilo].

Os países da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) querem reformar a Comissão de Direitos Humanos da OEA. ONGs e imprensa são contra. Qual o argumento para a reforma? Ela não pode tirar a independência da comissão?

Precisamente o que queremos é torná-la independente. O que define a comissão são os poderes dominantes aos quais ela serve. Estamos totalmente de acordo com a imprensa livre, mas os grandes negócios dedicados à comunicação, que muitas vezes querem intimidar governos, rechaçamos com toda a energia, e infelizmente é isso que a comissão tem defendido.

Temos muitos reparos à comissão, como a dependência total dos EUA. A sede é em Washington, e os EUA não são parte do sistema interamericano de direitos humanos porque não firmaram o Pacto de San José. Para nós, decisões da comissão são vinculantes; para os EUA, não.

E [a comissão] sataniza o Estado. De repente, uma organização sem fim lucrativo que não representa ninguém pode levar ao banco dos réus um Estado soberano? E a comissão, sem respeitar legalidade e competências, faz o que quer, em razão do que lhe diz uma fundação?

Por fim, você acha que é por acaso que, de oito relatorias, a única com orçamento próprio e informes independentes seja a da liberdade de expressão? É porque a liberdade de expressão é um direito com supremacia sobre outros ou simplesmente por trás disso há grandes capitais?

A Constituição do Equador consagra o conceito de "bem viver". Há divergências sobre como refletir isso no desenvolvimento. Grupos indígenas e sociais se opõem à exploração dos recursos naturais. Como vê essa contradição?

Não há contradição. Isso é democracia. Têm direito a estar contra, mas não, sendo uma minoria absoluta -as pesquisas mostram o imenso apoio popular ao governo-, a tentar impor pontos de vista particulares. Há uma autoridade legitimamente eleita.

No plano técnico, há gente cujos argumentos são bastante frágeis. Muitos aspiram a regressar a um estado primitivo da humanidade, o que é absurdo. Um país pobre precisa dos seus recursos naturais para atacar a pobreza.

Depois da expulsão em 2008, causada pelos problemas da hidrelétrica de San Francisco, a Odebrecht voltou ao Equador. O que mudou?

Ela reconheceu o erro e consertou a hidrelétrica, que era o que pedíamos. Ninguém quis prejudicar uma empresa, muito menos ter algum problema com um país tão querido como o Brasil.

Mudou alguma coisa na relação entre Brasil e Equador no governo Dilma? Em que a relação bilateral pode melhorar?

As relações com Lula e com Dilma sempre foram excelentes. Provavelmente esse problema da Odebrecht afetou algo, mas foi superado.

Adotamos o sistema de TV digital japonês-brasileiro, e isso são US$ 2,5 milhões em negócios para o Brasil. Compramos Super Tucanos. A interação é muito profunda, mas claro que sempre se pode melhorar, e esperamos que a presidente Dilma Rousseff nos honre com sua visita.

Como estão as relações com os EUA depois da expulsão da embaixadora em 2011?

Restabelecemos totalmente. É um tema superado. Mas, com o respeito que temos aos EUA, e eu vivi quatro anos lá, quando for necessário temos que rechaçar e denunciar certa política exterior que afeta a dignidade e a soberania.

Há ONGs financiadas por grupos de extrema direita nos EUA 100% dedicadas à política no Equador. Como em muitos outros países, isso é ilegal. Se querem fazer política, há que criar um partido, e os partidos são proibidos de se financiar no exterior.

Qual a sua avaliação sobre o documento final da Rio+20?

É simples formalismo, porque o problema de fundo não é técnico, é político, relações de poder. Se os que contaminassem fossem países pobres até nos teriam invadido, em nome de justiça, direitos humanos, liberdade, civilização, essas coisas que gostam de citar e jamais praticar.

NA INTERNET

Leia a íntegra
folha.com/no1108488

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