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Presidente paraguaio sofre impeachment Em processo-relâmpago, Fernando Lugo é afastado por Senado; vice Federico Franco assume 90 minutos depois Manifestantes e polícia entram em confronto após decisão; Cristina Kirchner diz que não aceita 'golpe de Estado'
ENVIADA ESPECIAL A ASSUNÇÃO O Senado do Paraguai destituiu ontem o presidente Fernando Lugo, 61, por "mau desempenho das funções". Por 39 votos a 4, Lugo, eleito em 2008, sofreu impeachment ao fim de um rito de pouco mais de 30 horas. Ele estava a dez meses do fim do mandato. Apenas 90 minutos depois de sacramentado o afastamento, o vice Federico Franco, rompido com Lugo, foi empossado novo presidente. A mudança provocou reação internacional. A presidente argentina, Cristina Kirchner, disse que "não validará um golpe de Estado". Bolívia, Equador, Venezuela e Nicarágua também não reconheceram o novo governo. O Chile apontou cerceamento ao direito de defesa. O Brasil não se pronunciou após o impeachment. Em discurso logo após a decisão, Lugo disse que a democracia paraguaia foi "profundamente ferida", mas que se submeteria à decisão. "Foram transgredidos todos os princípios da defesa, de maneira covarde, e espero que [os responsáveis] tenham a percepção da gravidade de seus feitos", disse. "Como sempre atuei no marco da lei, me submeto à decisão do Congresso", completou. Ele ainda pediu que seus apoiadores se manifestassem de maneira pacífica. Tão logo o impeachment foi formalizado, manifestantes entraram em confronto diante do Congresso Nacional com a polícia, que avançou a cavalo sobre a multidão. Não havia ontem relato de feridos. A principal acusação apresentada contra Lugo foi sua responsabilidade por "negligência e inaptidão" no enfrentamento entre camponeses e policiais em Curuguaty, no último dia 15, quando morreram 17 pessoas. A defesa, que contestou a constitucionalidade do processo de impeachment perante o Supremo, considerou o resultado "vergonhoso" e disse temer o "isolamento" do país na região, após o que classificam de golpe de Estado. Em sua primeira declaração, o novo presidente pediu aos líderes dos países vizinhos que entendam a situação no país. Prometeu que "fará o maior dos esforços" para normalizar a relação com eles. Ele anunciou suas duas primeiras nomeações de ministros, os de Interior e Relações Exteriores. ISOLAMENTO Para o senador Carlos Filizzola, destituído como ministro do Interior após o conflito e uma das únicas vozes favoráveis a Lugo no plenário, as provas apresentadas pela acusação tinham o "nível de um menino em idade escolar", já que reuniam basicamente recortes de jornais. "Os países da região veem isso como uma quebra do processo democrático, e isso poderia conduzir a um isolamento do Paraguai", afirmou Filizzola à Folha. Ricardo Patiño, ministro das Relações Exteriores do Equador, afirmou que o impeachment de Lugo foi "escandaloso" e "ofensivo". Em comunicado, o secretário-geral da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), Ali Rodriguez, afirmou que a entidade pode interromper a cooperação com o país. O deputado Salym Buzarouis, do PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), até então o principal partido apoiador de Lugo, negou ter havido uma ruptura democrática. "Aqui não há nenhum golpe, foi tudo 100% constitucional. Se um julgamento político é golpe de Estado, então os parlamentares [do Brasil] em 1992 já fizeram golpe de Estado", disse, referindo-se ao impeachment do então presidente Fernando Collor. Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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