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Brasil discute afastar Paraguai do MERCOSUL

Países da AL cogitam suspensão de órgãos multilaterais como punição por destituição-relâmpago de Fernando Lugo

Brasil e Uruguai decidem convocar embaixadores em Assunção para fazer consultas; Argentina retira seu diplomata

Jorge Adorno/Reuters
Federico Franco, novo presidente do Paraguai, acena na chegada ao palácio presidencial na capital, Assunção, ontem
Federico Franco, novo presidente do Paraguai, acena na chegada ao palácio presidencial na capital, Assunção, ontem

NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

O Brasil e outros membros da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) negociam suspender o Paraguai de órgãos multilaterais como forma de punir o país pela destituição-relâmpago de Fernando Lugo, anteontem.

A punição deverá valer inicialmente até a eleição de um novo presidente, prevista para abril do ano que vem.

O Brasil decidiu chamar de volta o embaixador brasileiro em Assunção para consultas. Na diplomacia, esse tipo de convocação é sinal de crise ou, no mínimo, de problema nas relações bilaterais. O Uruguai fez o mesmo.

Já a Argentina anunciou a retirada de seu embaixador até que se "restabeleça a ordem democrática".

Ontem, o governo brasileiro condenou a celeridade do processo contra Lugo, que durou cerca de 30 horas, ainda que tenha seguido preceitos constitucionais. Em nota, o Itamaraty falou em ruptura da ordem democrática.

O tamanho do castigo ao país hoje governado por Federico Franco, então vice de Lugo, começará a ser definido no próximo fim de semana, na Argentina, quando ocorre reunião do Mercosul.

Segundo a Folha apurou, Brasil, Argentina e Uruguai cogitam não aceitar a presença do Paraguai na reunião-ainda que ontem o governo paraguaio tenha expressado querer usar o encontro para elucidar a situação.

A diplomacia brasileira evita usar o termo "golpe" para descrever o impeachment de Lugo, apesar de o vocábulo ter sido atribuído à presidente Dilma Rousseff por alguns de seus interlocutores.

O impedimento de um mandatário por "mau desempenho da função" é previsto pela Constituição paraguaia.

No final da tarde de ontem, Dilma discutiu o caso com o chanceler Antonio Patriota e os ministros Celso Amorim (Defesa) e Edison Lobão (Minas e Energia). Também estavam presentes Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência para assuntos internacionais, e o chefe do lado brasileiro de Itaipu, Jorge Samek.

'LIÇÃO PEDAGÓGICA'

Os chanceleres da Unasul que estiveram na sexta-feira em Assunção retornaram de lá propensos a dar uma "lição pedagógica".

Disseram que os políticos da oposição paraguaia, hoje no poder, se aproveitaram de um momento de vulnerabilidade do mandatário -o confronto entre policiais e sem-terra que resultou em 17 mortes, no dia 15 de junho.

Durante a visita ao país, alguns diplomatas comentavam que a TV do Senado paraguaio, antes da votação, já transmitia uma das fases do processo de impeachment sob o título "leitura da condenação do presidente Lugo".

Para interlocutores do governo brasileiro que acompanharam a reunião da Unasul anteontem, são remotas as chances de se revogar a nomeação de Federico Franco. Segundo a Constituição paraguaia, o vice é o encarregado legal de fazer a ponte do Executivo com o Legislativo.

Na sexta, Dilma disse que o Mercosul e a Unasul são órgãos com cláusulas democráticas nos seus estatutos. Indicando o possível desfecho, ela disse haver "previsão de sanção" para quem não cumprir "os princípios que caracterizam uma democracia."

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