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Dançarina faz da sensualidade a sua profissão

DO ENVIADO AO CAIRO

"Pela primeira vez na vida, estou tomando remédio contra dor de cabeça", diz Dina, mostrando os comprimidos num papel laminado. "Há dias não durmo, preocupada com o futuro do país."

Dina é a dançarina do ventre mais famosa do Egito, símbolo de uma arte milenar que muitos temem estar com os dias contados no mundo árabe com a ascensão de forças islâmicas conservadoras.

Passa da 1h no Cairo e Dina, num vestido preto colado, toma café no restaurante vazio de um hotel de luxo, à espera de entrar em cena numa festa de casamento.

Não muito longe, uma multidão está reunida há horas na praça Tahrir em apoio a Mohamed Mursi, o candidato à Presidência da Irmandade Muçulmana.

Embora o fervor islâmico abomine a sensualidade da dança que ela pratica, Dina não esconde que vê grande dose de hipocrisia nas críticas dos ultraconservadores.

O exemplo, diz, é que muitas das festas em que se apresenta são de muçulmanos religiosos, dispostos a pagar seu cachê de R$ 5.000 por uma hora de dança.

De fato, quando Dina entra correndo na pista de dança, descalça e com trajes mínimos, não faltam mulheres com véus muçulmanos entre os convidados que se acotovelam para vê-la em ação.

Antes de fazer sua entrada triunfal pelo salão, Dina passa pela cozinha do hotel, arrancando sorrisos e assovios de uma fileira de garçons.

Alguns gritam o nome dela, outros o de Ahmed Shafiq, o general da reserva que disputa a Presidência com Mursi. Como se Dina representasse a alma liberal do país que estaria sob risco em caso de vitória dos islamitas.

Ao som de uma superbanda de 27 músicos, Dina balança os quadris em ritmo frenético, rodopia pelo salão e é fotografada por dezenas de celulares.

As dores de cabeça da política parecem totalmente esquecidas. Com um sorriso permanente, Dina hipnotiza o salão, enquanto convida os noivos a deixar a timidez.

Coberta de branco dos pés à cabeça, a desajeitada noiva tenta em vão acompanhar o ritmo de Dina, que sacode o decote generoso estufado por seios turbinados.

Embora extremamente popular, a dança do ventre é associada por muitos no país à prostituição, e nem celebridades como Dina estão livres de comentários maldosos.

No mês passado, o dono de um canal de TV a cabo especializado na dança foi preso sob a acusação de "incitar atos libidinosos", inflamando o debate moralista.

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