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Ação social garantiu popularidade de grupo

Fundada em 1928, Irmandade Muçulmana passou décadas clandestina, mas manteve influência graças a rede assistencial

Entidade influenciou diversos movimentos islamitas, incluindo radicais como a Al Qaeda, de Bin Laden

DO ENVIADO AO CAIRO

A vitória de Mohamed Mursi na primeira eleição presidencial livre da história do Egito confirmou a força da Irmandade Muçulmana como o grupo mais organizado e popular do país, mesmo tendo operado sob repressão e na clandestinidade a maior parte de sua existência.

Proibido de exercer atividades políticas pela ditadura militar egípcia, o movimento propagou sua influência por meio de uma vasta rede de ação social, que preencheu o vácuo deixado pela incompetência do Estado em prover serviços básicos.

"A atividade política nunca foi central para nós, até porque era proibida", explicou à Folha Amr Darrag, membro da Irmandade Muçulmana há 20 anos e representante do grupo na Shura, Câmara alta do Parlamento.

"O principal eram nossas ações sociais, um projeto de civilização para implementar nossa referência islâmica e melhorar a sociedade", diz.

Fundado em 1928 pelo professor e imame Hassan al Banna para promover os valores islâmicos e combater o domínio colonial britânico, o grupo influenciou movimentos islamitas no mundo inteiro, incluindo alguns dos mais radicais, como a Al Qaeda, do saudita Osama bin Laden.

No entanto, na campanha presidencial do Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade, Mursi manteve um tom moderado, com promessas de respeitar os valores democráticos e proteger os direitos das mulheres e da minoria cristã.

IMAGEM MODERNA

A retórica foi acompanhada de um esforço em propagar uma imagem moderna.

Das barbas aparadas e ternos bem cortados dos porta-vozes, sempre com iPads em punho, ao uso constante de redes sociais como Twitter e Facebook, havia o claro propósito de se afastar do estereótipo do islamita radical.

Uma das estrelas ascendentes dessa nova geração de irmãos muçulmanos, Gehad Elhadad, 30, foi convocado do Reino Unido, onde trabalhava no mercado financeiro, para ser um dos principais articuladores da campanha de Mohamed Mursi.

"Assim que Mubarak caiu, começamos a pensar em como implementar as ideias que há anos estão sendo gestadas pela Irmandade", diz Elhadad. "O objetivo é aplicar os princípios do islã na sociedade moderna."

ASSISTÊNCIA

Falando rápido, sem pausas para pensar, Elhadad diz que o grupo trabalha com mais de 15 mil ONGs numa rede social que presta ajuda aos necessitados que foram abandonados pela ditadura.

Num bairro miserável da periferia do Cairo, bastião da Irmandade, a viúva Saba Hishazi, 37, é uma das beneficiadas pela ajuda e eleitora entusiasmada de Mursi.

Faxineira de um hospital no bairro de classe média alta de Zamalek, ela ganha R$ 150 por mês e só consegue sustentar os quatro filhos graças à ajuda que recebe de uma das organizações islâmicas associadas à Irmandade.

A filha, que sofre de um problema congênito nos nervos e não consegue andar, foi operada duas vezes em clínicas da ONG. "Recebo uma cesta básica uma vez por mês e também remédios", diz Saba, analfabeta como 40% da população egípcia.

"Mursi é o candidato de Deus e rezo todos os dias para que ele seja o nosso presidente", afirmou ela dois dias antes da eleição.

Apesar de manter o slogan "islã é a solução" de seu fundador, a Irmandade Muçulmana de Mursi, um engenheiro de 60 anos com doutorado nos EUA, insiste em que ele se aplica inteiramente aos valores democráticos.

"A democracia é um dos princípios do islã", diz Darrag. "Respeitaremos as liberdades de expressão e de culto muito mais que o antigo regime, isso eu garanto."

(MN)

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