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Lugo não descarta a possibilidade de voltar a concorrer à Presidência

Ex-presidente do Paraguai, deposto por impeachment, diz estudar retorno como candidato

Em entrevista à Folha, ex-presidente Fernando Lugo afirma não querer sanções econômicas contra o Paraguai

ISABEL FLECK
ENVIADA ESPECIAL A ASSUNÇÃO

Fernando Lugo não descarta voltar à Presidência do Paraguai. Pela via eleitoral.
Por isso, pretende levantar todas as informações sobre aspectos jurídicos e legais que concernem ao seu status após a destituição do poder.

Em entrevista à Folha, disse reconhecer a impossibilidade de reeleição no país, mas destacou que, retirado da Presidência, a situação é outra.

"Com esse golpe parlamentar, perdi meu status de senador vitalício e me tornei um cidadão comum. Tenho todos os meus direitos políticos a exercer e, dentro desses direitos, sempre há possibilidades de candidaturas eletivas."

Oficialmente, os partidários de Lugo têm apostado mais baixo. O pré-candidato à presidência pela Frente Guasú (que o apoia), Mario Ferreiro, disse que a coligação deve formar uma lista para a eleição parlamentar, com Lugo para o Senado.

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Folha - A sua defesa argumenta que o senhor foi alvo de uma perseguição política. A quem seu governo não agradou?
Fernando Lugo - Pela primeira vez, em 2008, chegou ao poder alguém que não pertencia a nenhum partido político, que não teve militância em nenhum partido, que nunca se meteu em política partidária. E ter um estranho no Palácio de López incomodou, especialmente aos líderes dos partidos tradicionais.
Além disso, 2013 e as eleições estão logo ali, e os partidos tradicionais dizem que voltarão. A única maneira [encontrada] foi cortar um projeto político diferenciado para tomar o poder de novo.

Quais são seus planos para 2013? Voltar como candidato?
Temos que analisar bem os aspectos jurídicos e políticos, se há possibilidade, e creio que não, de reeleição no Paraguai. Mas o que vimos é que, com esse golpe parlamentar, eu perdi meu status de senador vitalício e me tornei um cidadão comum.
Dentro do marco do cidadão comum, tenho todos os meus direitos políticos a exercer e, dentro desses direitos, sempre há possibilidades de candidaturas eletivas.

Inclusive à Presidência?
É preciso estudar isso.

Mas o senhor não descarta.
Se a lei permitir e se for consensual, e dependendo das conversas entre os grupos políticos que nos representam... [Veremos] se há a possibilidade jurídica e política e o que os cidadãos vão decidir. O caminho é longo, mas a última palavra ainda não foi dada.

O senhor considera que a sua saída se assemelha ao golpe dado contra Manuel Zelaya, em Honduras?
De uma certa maneira, sim. Zelaya pertencia a um partido tradicional de Honduras, mas tínhamos semelhanças em termos de [privilegiar] políticas sociais importantes.
Todos esses processos novos, que têm uma linha de democracia participativa, de fazer política com os cidadãos, incomodam quem só enxerga seu partido e seus interesses.
Mas lá o setor que fez o golpe foi o militar. Aqui, não houve grande descontentamento entre militares e policiais.

Como o senhor recebeu o apoio dos países da região?
Analisamos serenamente. Acho que chamou a atenção de todos o que ocorreu no Paraguai. Não é como querem insinuar [no Paraguai], que aqui não aconteceu nada. Houve quebra institucional violenta, pela forma grosseira como o Parlamento fez.

O senhor tem conversado com o governo brasileiro desde a sua saída?
Estivemos com o chanceler [Antonio Patriota], quando ele veio a Assunção.
Mas eles já têm todos os elementos, todas as informações no nível do país e do Mercosul para tomar as decisões que avaliarem melhores.

Espera que os governos sigam não reconhecendo o governo de Franco?
Eu quero o melhor para o país e faço uma forte distinção entre o que é o país e o que é o governo.
Não quero nenhuma sanção econômica, porque isso prejudicaria o país, a classe mais humilde: os produtores de frutas, de hortaliças. Isso Fernando Lugo não deseja.
Mas, sim, creio que houve uma quebra institucional e os países têm que pensar, refletir e decidir sobre que posição devem tomar em relação ao governo atual.

Como a formação de um gabinete paralelo pode ajudá-lo?
Não há nenhum governo paralelo formado. Sou um cidadão paraguaio preocupado com o que aconteceu.
Queremos que todos os projetos e programas tenham continuidade, porque fazem parte de uma política de direito que não pode ser cortada. Os cidadãos têm o direito de seguir recebendo os benefícios do Estado paraguaio.

A acusação para tirá-lo do poder foi de "mau desempenho das funções". O que faria de diferente em seu mandato?
Fortaleceria a democracia. Até agora, a democracia é o melhor sistema de participação e de consolidar uma sociedade muito mais equitativa. Equidade em termos políticos, em termos sociais.
No Paraguai, há muito contraste entre os grupos: um pequeno grupo econômico abastado e uma grande maioria de grupos marginais que vivem quase na pobreza e na miséria.

Agiria diferente no caso de Curuguaty [conflito agrário que deixou 17 mortos e foi o estopim do impeachment]?
Queremos que haja uma comissão especial de investigação, que trabalhe a fundo, sem relatórios parciais.
Não podemos ficar só com o relatório policial.

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