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Análise

Permanência no bloco deve se tornar um tema no Paraguai

MONICA HIRST
ESPECIAL PARA A FOLHA

Desta vez a fila andou no Mercosul, com relevantes desdobramentos políticos, institucionais e de configuração para o bloco.

O tratamento da situação no Paraguai tornou-se um catalisador com mais capacidade de impacto sobre outros temas do que sobre o próprio desfecho político a ter lugar naquele país.

Os compromissos de que a suspensão da participação do Paraguai não lhe causará danos econômico-comerciais e de que essa mesma suspensão perderá vigência após a escolha democrática de um novo presidente, em abril, simplificariam a superação da crise intrabloco.

Essa aparente simplicidade não impedirá que, nos próximos meses, a continuidade no Mercosul se torne um tema de forte politização no Paraguai -alimentada não só pelas reações nacionalistas que essa suspensão ocasiona, mas por avaliações pragmáticas da classe política local sobre a conveniência de estar exposto a esse tipo de "humilhação".

A esse questionamento se acrescenta o tapa com luvas de pelica recebido com a decisão de aprovar a entrada da Venezuela como membro pleno, uma decisão pendente há vários anos de ratificação por parte do Congresso paraguaio.

Esse "toma lá, dá cá", entretanto, não impede que se analise a decisão de um prisma mais amplo, já que suas consequências não deverão ser triviais para o bloco.

Incorporar um país petroleiro soma atributos ao Mercosul e, ao mesmo tempo, abre portas para a articulação da Venezuela com um mercado ampliado.

Mas também se ampliam as responsabilidades dos Estados-membros quanto ao futuro político desse país.

Cabe lembrar que as eleições presidenciais venezuelanas, em um quadro de notável polarização, terão lugar seis meses antes das eleições no Paraguai.

Para o Brasil, que deterá a presidência do Mercosul até dezembro, a fila também andou. A crise paraguaia de fato pavimentou o tom e o lugar que a agenda regional merecerá na política externa do governo Dilma.

Até agora, essa era uma dimensão deixada em segundo plano, ao lado dos temas da governança global e das coalizões com o time emergente.

Foi notória a liderança do país na condução das decisões recentes do Mercosul e no proativismo da Unasul.

Essa visibilidade será razão para uma nova onda de críticas e pressões externas e domesticas. Nesse caso, a fila não anda.

MONICA HIRST é professora de professora de política internacional da Universidade Nacional de Quilmes, na Argentina, e bolsista do Ipea

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