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Aos inimigos, o regulamento

Nomeado por Bush, John Roberts desempatou a favor da lei de reforma da saúde de Obama na Suprema Corte dos EUA

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Quando John Roberts foi empossado pelo então presidente George W. Bush como ministro-chefe da Suprema Corte dos EUA, em 2005, seu filho Jack, 5, perguntou se ele ganharia uma espada.

Na anedota contada pelo magistrado em um colóquio na Califórnia em 2006, o menino havia visto uma estátua da Justiça e achara que o trabalho do pai, que aos 50 era um dos mais jovens a chegar à máxima instância judicial, envolveria o objeto.

A resposta, ainda que figurada, poderia ser "sim".

"Raramente, na lei, tão poucos mudaram tanta coisa tão rápido", escreveu certa vez seu colega Stephen Breyer, usando um texto do próprio tribunal para lamentar-se sobre seus rumos.

Até agora, o tribunal sob seu comando era tido como um dos mais conservadores em décadas, tendo caminhado à direita com reinterpretações, por exemplo, das leis de controle de armas e de financiamento eleitoral.

DESEMPATE

A história mudou na última quinta, quando Roberts decidiu que a reforma do sistema de saúde sancionada pelo presidente Barack Obama em 2010 era constitucional e se alinhou aos quatro colegas progressistas do Supremo, surpreendendo os conservadores ao desempatar a favor do presidente.

"O pior é que o parecer de Roberts serve como mapa constitucional para os arquitetos da próxima grande expansão do Estado de bem-estar", zangou-se o jurista conservador John Yoo nas páginas do "Wall Street Journal".

Outros à direita, porém, elogiaram o magistrado por preservar na decisão o argumento conservador de que o governo não pode impor uma multa e impelir um seguro saúde sobre o cidadão. Num truque semântico, Roberts trocou o termo por "imposto" e alegou que ele incorreria só sobre não segurados.

Não foram poucos os artigos após o julgamento histórico que se referiram ao magistrado como gênio político.

"[O juiz Roberts] Tem profundo respeito pela palavra da lei e pelas liberdades garantidas a cada cidadão", disse Bush ao nomeá-lo, em 2005. "Ele aplicará a constituição e as leis estritamente e não vai legislar do tribunal", completou, no que os progressistas veem ironia.

Roberts chegou à chefia do Supremo inesperadamente. Indicado em julho e sabatinado para o tribunal, acabou alçado ao posto-mor na posse, em setembro, duas semanas após a morte de seu antecessor e mentor conservador, William Rehnquist.

Nascido em Buffalo, Estado de Nova York, filho de um gerente de fábrica e de uma dona de casa, Roberts foi criado em Indiana, junto com as três irmãs.

Ao empossá-lo, Bush lembrou que ele fora o capitão do time de futebol americano no colégio (ele conserva o porte atlético) e que, nos verões, fazia bico em uma metalúrgica para bancar a faculdade.

Formado e pós-graduado na Universidade Harvard, misturou a carreira pública -foi assistente de Rehnquist e conselheiro do governo Reagan (1981-89)- à advocacia.

Mas, mesmo quando advogado, focou o Supremo, defendendo 39 casos na instância máxima até ser indicado por Bush para a Corte do Distrito de Colúmbia, em 2003.

Casado desde 1996 com uma colega advogada da mesma idade, Jane, adotou Jack, 12, e Josie, 11, em 2000.

São os filhos, companhia constante, que mostram ao público o lado familiar de um sujeito tão discreto quanto incisivo. A imagem de Jack pulando ante as câmeras, com os pais atônitos enquanto o presidente discursa, é a mais lembrada de sua posse.

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