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Videla pega pena por sequestro de bebês

Ex-ditador da Argentina, que já cumpre prisão perpétua, recebe sentença de 50 anos; Justiça vê crime de lesa-humanidade

Avós da Praça de Maio estimam que 500 crianças tenham sido entregues a militares durante a ditadura

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

O ex-ditador Jorge Rafael Videla, 86, foi condenado ontem a 50 anos de prisão por conta do sequestro de bebês durante a última ditadura militar argentina (1976-1983).

Videla e outros dez acusados ouviram as sentenças no tribunal de Comodoro Py, em Buenos Aires. As penas variaram de 15 a 50 anos.

Pela primeira vez, a Justiça declara que houve um plano sistemático de sequestro de recém-nascidos, filhos de prisioneiros políticos.

Até então, todos os casos eram tratados pelas autoridades de maneira isolada.

A nova abordagem permite considerar os crimes como de lesa-humanidade, podendo levar a novas detenções de outros envolvidos.

CAMPO DE MAYO

Videla já cumpre pena de prisão perpétua na cadeia militar do Campo de Mayo, em razão de mortes ocorridas durante o regime.

Condenado na década de 80 e indultado na gestão do então presidente Carlos Menem, o general voltou ao banco dos réus depois que o kirchnerismo decidiu estender os julgamentos dos crimes de Estado ocorridos durante a década de 70.

De acordo com a associação Avós da Praça de Maio, foram subtraídos 500 bebês no período, depois entregues a famílias de militares que combatiam os oposicionistas.

As Avós já conseguiram recuperar 105 desses jovens, que hoje estão na casa dos 30 anos de idade.

DECLARAÇÕES

O general condenado deu declarações, na semana passada, que revoltaram a sociedade. "Apresar de respeitá-las como mães, as mulheres grávidas mencionadas pela acusação eram ativistas que usaram seus embriões como escudos humanos durante combate", disse Videla em sua defesa.

Segundo Alan Iud, da equipe jurídica das Avós, a sentença é bem-vinda porque o roubo de bebês "é o que distingue a crueldade da ditadura argentina em comparação com outras da região".

Para o jornalista Ceferino Reato, autor do livro "Disposición Final", em que entrevistou Videla, o general sempre soube que os sequestros de bebês passaram a ocorrer em grande volume durante o regime militar.

Representantes das Avós e Mães da Praça de Maio, assim como de outros grupos de direitos humanos, estavam presentes no tribunal e celebravam a cada anúncio de pena para os repressores. Do lado de fora, militantes com bandeiras festejavam.

MOISÉS NAÍM
Excepcionalmente hoje a coluna não é publicada

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