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Volta de brasileiros para casa enxuga economia em Portugal

Crise afasta imigrantes de pequenas cidades e abala comércio e serviços

LUISA BELCHIOR
ENVIADA ESPECIAL A ERICEIRA (PORTUGAL)

A garrafa de cachaça quase cheia denuncia: faltam clientes brasileiros no Bar do Armando, no centro de Ericeira, em Portugal.

A pequena cidade a 50 km de Lisboa é um dos redutos de imigrantes do Brasil. Com a crise na Europa, porém, retornaram ao país, secando a economia de cidades inteiras.

Nos povoados da Costa da Caparica, onde a baixa de brasileiros foi maior, supermercados vendem até 60% menos, pequenos shoppings foram abandonados, restaurantes ficaram vazios e 40% de agências imobiliárias pararam de funcionar.

Com menos contribuições, a prefeitura teve que cortar vencimentos de funcionários.

"Os brasileiros eram consumidores diários. Com certeza afetou bastante nossa economia", diz à Folha o prefeito das vilas da Costa da Caparica, Antonio Neves.

Lá, o número de brasileiros chegou a 4.000, de uma população total de 13 mil. No primeiro trimestre de 2012,porém, restavam apenas 1.500.

A chegada de brasileiros a essas cidades, há cerca de uma década, reconfigurou e diversificou suas economias, baseadas na agricultura e no turismo interno de verão.

"O brasileiro aqui enchia o carrinho no supermercado", afirma o prefeito de Ericeira, António Manuel Mansura.

O setor das agências imobiliárias, pelo levantamento das prefeituras, foi o mais afetado até agora. As que não fecharam as portas tiveram que baixar o preço dos aluguéis.

A agente imobiliária Marilda Cardoso diz que negocia hoje por € 100 (R$ 250) mensais o aluguel de apartamentos que menos de um ano atrás valia € 400 (R$ 1.000).

"Meu celular não parava de tocar", conta a agente, também brasileira.

Entre os que, como ela, ficaram em Portugal, 35% têm a intenção de voltar em algum momento ao Brasil, segundo um estudo do Instituto Universitário de Lisboa.

"Há uns meses, ainda veio uma construtora espanhola aqui e recrutou todos os desempregados para trabalhar em uma obra da Copa de 2014 em São Paulo. Foi todo mundo", conta Armando Morgado, proprietário do bar que leva o seu nome em Ericeira.

Ali, a crise se mede pela bebida: ele vendia 20 barris de chope por dia em 2006. Hoje, mal chega a dois barris.

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