Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Entrevista Federico Franco

Presidente paraguaio promete 'tolerância zero' com ilegalidade

FRANCO CRITICA ANTIGA GESTÃO DE SECRETARIA ANTIDROGAS, DEFENDE TRANSGÊNICOS E NEGA QUE REPRESENTE OS INTERESSES DA ELITE DO PAÍS

ESTELITA HASS CARAZZAI
ENVIADA ESPECIAL AO PARAGUAI

O presidente do Paraguai, Federico Franco, que assumiu o cargo no mês passado após o impeachment de Fernando Lugo, disse que terá "tolerância zero" com tudo o que for ilegal no país.

Em entrevista à Folha, Franco fez críticas à antiga gestão da Secretaria Nacional Antidrogas -que, disse, "servia para arrecadar dinheiro"- e defendeu medidas de sua gestão, como a liberação dos transgênicos.

O presidente afirma que não quer se candidatar no pleito do ano que vem e que seu compromisso é garantir a transição entre os governos de Lugo e de seu sucessor. Leia trechos da entrevista.

-

Folha - Quando e por que o senhor se afastou de Fernando Lugo, de quem era vice?
Federico Franco - Uma semana antes [do impeachment], houve um massacre no qual morreram 17 paraguaios [em conflito entre policiais e sem-terra em Curuguaty]. Lugo, em vez de iniciar um [rito] sumário e afastar os chefes policiais, promoveu-os ao cargo mais alto da polícia.

Mas antes disso, o sr. já havia rompido com o presidente?
Nós tínhamos desavenças políticas. Eu me opunha à utilização dos quartéis militares por partidos políticos, ao ingresso da Venezuela no Mercosul. Mas nunca houve distanciamento, sempre houve tratamento respeitoso.

Quando ocorreu o conflito em Curuguaty, o sr. chegou a falar com Lugo? Aconselhou-o a agir de alguma forma?
Liguei para o presidente e ele me disse que se reuniria com seus ministros. Mas ele nunca me convocou -e isso é de conhecimento público. Eu não era um nome que ele consultava para tomar decisões.

Qual será sua política em relação aos conflitos com os sem-terra?
A prioridade absoluta [do meu governo] serão os problemas sociais, e sobretudo os sem-terra, mas que entendam que tem que haver ordem e respeito. Dentro da lei, tudo. Fora da lei, nada.

A boa relação do sr. com proprietários rurais faz com que muitos o vejam como ligado às elites. O sr. se considera representante da elite paraguaia?
Jamais. Sou de classe média. Não tenho um pedaço de terra, fora minha casa, nem atividade agrícola. Sempre trabalhei como político identificado com as classes populares. O que é claro é meu respeito à produção, único modo de derrotar a pobreza.

Isso também passa pela liberação dos transgênicos?
Os transgênicos são tecnologia e ciência que nos permitem melhorar a produtividade. Sou um pragmático. Entre usar inseticidas, que não têm código verde, e usar um transgênico, modificado geneticamente para poder suportar melhor a umidade, as pragas e obter melhor produção... qual é o inconveniente? Não tenho que ser ideológico.

Documentos recentemente divulgados comprovam que o governo brasileiro suspeita da atuação de terroristas na Tríplice Fronteira e crê em atividade do Hizbollah em Ciudad del Este. O sr. corrobora essas suspeitas?
O que escutei várias vezes é que isso ocorre em Foz do Iguaçu.

E o que seu governo fará para combater o terrorismo?
Tolerância zero. Coloquei uma pessoa de máxima confiança na Secretaria Nacional Antidrogas. É uma instituição que, até há pouco tempo, servia para arrecadar dinheiro. Agora, tem como propósito combater o tráfico de drogas.
Não temos compromisso e não teremos tolerância. Tudo o que é ilegal e está à margem da lei, tolerância zero.

Guarda mágoa pelo fato de o Brasil ter apoiado a suspensão do Paraguai do Mercosul?
Não, não. Adoro o Brasil.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.