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Análise

Transformação do regime em milícia alauita é cenário possível

ROULA KHALAF
DO “FINANCIAL TIMES”, EM BEIRUTE

Latakia, a cidade costeira para onde, segundo rumores, Bashar Assad teria ido, é reduto da comunidade alauita, seita minoritária de que a família Assad faz parte e à qual tem recorrido fortemente na batalha contra uma revolta majoritariamente sunita.

Diplomatas ocidentais dizem que Assad não está a ponto de abandonar a capital. Mas, se ele não conseguir impor sua autoridade sobre Damasco, pode recorrer a uma milícia alauita para travar uma luta desesperada pela sobrevivência da família.

De fato, entre os cenários visualizados por diplomatas e analistas está a desintegração do Estado num conflito ainda mais sangrento, no qual os alauitas se reagrupam em seus redutos no litoral e levam sua guerra adiante.

"O regime está se despindo daquilo que o fazia ser um Estado. O risco é que se dispa justamente daquela derradeira camada que ainda o diferencia de uma milícia grande", diz Peter Harling, do International Crisis Group.

Desde o início da crise, o Ocidente vem incentivando a oposição a dialogar com a comunidade alauita, ramo do islamismo xiita que compõe cerca de 12% da população, mas cujos membros ocupam a maioria dos escalões médios e altos do governo sírio.

Os Assad, entretanto, mantêm a comunidade refém. Bashar Assad retrata propositalmente a crise como uma campanha de extremistas sunitas para tomar o poder e convoca a ajuda dos alauitas.

Num padrão que vem sendo repetido em todo o país, o bombardeio de cidades e vilarejos muitas vezes é acompanhado por ataques das "shabiha", as milícias pró-governo alauitas. O receio de muitos alauitas é que a queda do regime resulte em retaliações duras contra eles.

Para ativistas da oposição, o plano de sobrevivência de longo prazo do regime é criar um enclave alauita. Eles dizem que a estratégia militar foi traçada para proteger áreas religiosamente mistas em volta de Homs e Hama que poderiam ser ligadas ao litoral e, crucialmente, também ficam perto do Líbano.

O desalojamento de partes da população nos combates tem feito mais alauitas se deslocarem para o litoral e mais sunitas deixarem as áreas mistas no centro do país.

Emile Hokayem, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, questiona se uma milícia alauita seria sustentável. O regime de Assad teria pouco valor estratégico para seus aliados se acabasse defendendo um enclave alauita. Se isso ocorrer, diz Hokayem, o regime focará apenas na sua sobrevivência -e na busca por vingança.

Tradução de CLARA ALLAIN

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