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Ameaça de armas químicas é trunfo do regime de Assad

Tamanho do arsenal sírio é desconhecido, mas poucos duvidam de que ele exista e há temor de uso contra civis

Existência de material é um dos motivos usados pelo governo brasileiro para defender tentativa de diálogo com ditadura

CAROLINA MONTENEGRO
ISABEL FLECK
DE SÃO PAULO

Se geopolítica e petróleo explicam metade da atenção mundial à crise na Síria, a outra metade lê-se em três letras: WMD. É a sigla em inglês para "armas de destruição em massa". No caso da Síria, a preocupação principal é com as armas químicas.

O tipo e a quantidade das armas e a capacidade do regime de Bashar Assad para usá-las não estão claros, mas especialistas e governos não duvidam que elas existam.

"A informação não classificada é que a Síria tem um dos maiores arsenais de armas químicas do mundo", disse à Folha Leonard Spector, diretor do James Martin Center for Nonproliferation Studies, de Washington.

A existência do arsenal, que incluiria gás mostarda, gás Sarin e o poderoso VX, tem sido assunto corrente em declarações de autoridades.

Na quarta-feira, o secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, afirmou que a Síria é "responsável por seu arsenal químico e por qualquer coisa que aconteça com ele".

Em maio, o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, mencionou a existência do arsenal, em sabatina da Folha, para justificar o diálogo com o governo Assad.

A Síria é um dos oito países do mundo que não assinaram a Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas (CPAQ), de 1993. O fato de o governo sírio não negar as especulações não deixa dúvidas entre os diplomatas que atuam na região.

Na semana passada, o jornal "Wall Street Journal" publicou que o regime estaria movendo suas armas químicas. Os dados alarmaram a comunidade internacional pelo risco de uma escalada do conflito, que já fez mais de 15 mil mortos.

"É difícil dizer ao certo porque eles as moveram. Pode ser para o uso do arsenal ou para garantir a sua segurança", disse Kai Ilchmann, especialista em armas químicas e biológicas na Universidade de Sussex (Reino Unido).

Ontem, o general desertor Mustafa Sheikh disse à agência de notícias Reuters na Turquia que o regime estaria movendo as armas antes de uma ampla ofensiva em retaliação à morte de quatro membros do alto escalão do governo em um ataque nesta semana.

Além do temor do uso do arsenal contra civis, há o receio (em especial em Israel) de que as armas caiam nas mãos de grupos extremistas. "A Síria possui mísseis que podem atingir todo o território de Israel", disse Yair Naveh, vice-chefe do Estado-Maior do Exército, em junho.

INTERVENÇÃO

Diferente do caso do Iraque, porém, onde as suspeitas sobre armas de destruição em massa fabricaram um pretexto para a intervenção estrangeira, na Síria a ameaça serve de barganha a Assad.

"A escalada do conflito com armas convencionais é mais lenta; a hipótese química é que coloca o regime sírio em vantagem", explicou Salvador Raza, professor de planejamento estratégico da National Defense University, nos EUA.

A carta na manga de Assad, porém, pode não ser um blefe. "Se estiverem desesperados, eles podem usá-las. Mas seriam duramente condenados pela comunidade internacional", afirmou Lawrence Korb, professor da Georgetown University.

"O uso de armas químicas colocaria em risco o apoio da Rússia e da China no Conselho de Segurança", afirmou Ilchmann.

Nessa hipótese, o conflito poderia ser regional. "Israel teria que revidar com armas nucleares. A discussão vai até a possibilidade de conflito regional com armas de destruição em massa", disse Raza.

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