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Depoimento R., 32

Minha vida em Damasco se tornou um pesadelo

MORADORA DA CAPITAL SÍRIA RELATA À FOLHA COMO É A VIDA SOB O ATAQUE DAS TROPAS LEAIS AO DITADOR BASHAR ASSAD

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ANTAKYA (TURQUIA)

A vida ficou quase impossível em Midan. Muitas pessoas deixaram Damasco, o comércio está fechado e alguns prédios foram completamente destruídos. Meu bairro está tomado por um cheiro de putrefação.

Comemos comida enlatada e congelada que armazenamos. Há cortes diários de eletricidade, em alguns bairros por longos períodos. Também falta água.

Nos últimos dias, o Exército sírio bombardeou violentamente o bairro, e a ofensiva continuou mesmo depois do recuo tático dos combatentes do ELS (Exército Livre da Síria).

As forças do [ditador sírio Bashar] Assad ainda estão na área, mas retiraram os tanques de alguns bairros. Graças a Deus minha casa não foi atingida, mas algumas próximas foram destruídas.

TENTO REZAR

Eu tento rezar e tomar conta dos meus sobrinhos. Eles são crianças pequenas. Procuro mantê-los ocupados para que eles não prestem atenção nas explosões e nos bombardeios em volta. Mas essa é uma tarefa difícil.

A internet está funcionando, acho que o regime não cortou para localizar ativistas. Algumas vezes os telefones ficam mudos por horas.

Não quero deixar Damasco, não tenho para onde ir. Calculo que uns 65% dos meus vizinhos foram embora. As casas deixadas foram saqueadas e incendiadas.

Cadáveres estão espalhados pelas ruas. As forças de Assad nos impediram de sepultar ou mesmo remover os restos mortais. É por isso que o cheiro é forte e doenças infecciosas começam a se espalhar por essa área.

Há um grande número de feridos, mas eles não vão aos hospitais para não serem presos. Por isso, nós os levamos a ambulatórios de campo e fazemos o possível para ajudá-los. Mas não há medicamentos suficientes.

Viver em Damasco se tornou um pesadelo.

R., 32, trabalhadora autônoma, por telefone

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