Índice geral Mundo
Mundo
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Aleppo avista 'a mãe de todas as batalhas'

Disputa entre o regime do ditador Bashar Assad e os insurgentes pelo controle da maior cidade síria se intensifica

Folha visita QG rebelde e testemunha explosão de morteiro e captura de oponentes; Cruz Vermelha se retira

Alberto Prieto/Associated Press
Apoiadores da revolta contra o regime do ditador Bashar Assad transportam caixão com corpo de insurgente morto em combate na cidade de Aleppo
Apoiadores da revolta contra o regime do ditador Bashar Assad transportam caixão com corpo de insurgente morto em combate na cidade de Aleppo

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ALEPPO (SÍRIA)

Quando a vista já alcança a cidade de Aleppo, cinco morteiros cruzam o estrelado céu do norte da Síria, um após o outro.

Disparados por forças do regime do ditador Bashar Assad, são o sinal visível dos enfrentamentos que já duram sete dias pelo controle da mais populosa cidade do país (2,5 milhões de habitantes).

São 23h30, e a Folha viaja de carona num comboio rebelde. Essa é a única forma de acessar a cidade, na qual se anuncia para as próximas horas "a mãe de todas as batalhas" -a expressão foi usada por um membro não identificado do governo em reportagem publicada ontem por um jornal adesista ao regime.

CAMINHO DE TERRA

Comunicando-se o tempo todo por rádio, os motoristas dos cinco veículos que compõem o comboio trocam informações e decidem no trajeto o caminho a seguir.

As estradas principais são evitadas. As vicinais são de terra batida e pedregosas. Ocasionalmente, há pastos a serem atravessados.

A distância de cerca de 35 quilômetros consome duas horas. O caminhão em que a reportagem viaja transporta também mantimentos. Em Aleppo, a comida é escassa; o fornecimento de energia é intermitente. Falta água.

Nas margens do caminho, os rebeldes são saudados com gritos de Allah Akbar (Deus é o maior), expressão que se converteu no grito de guerra da revolta contra Assad, iniciada há 16 meses.

É também Allah Akbar o grito que ecoa no quartel-general dos insurgentes, horas depois da chegada à metrópole, quando dois prisioneiros são exibidos num desfile forçado.

Eles estão algemados e são puxados pelos cabelos. Cada um é levado, em seguida, para uma sala improvisada em cela. Eles são separados de acordo com os crimes.

O acusado de ser ladrão vai para um lado, o integrante da milícia fiel ao regime, para outro. Ambos demonstram no olhar o pavor de quem antevê o pior.

Nas regiões onde já assumiu o comando, os rebeldes têm adotado como prática a instalação de tribunais sumários de julgamento. O veredicto pela execução é comum.

O QG é guardado por aproximadamente 30 homens, que usam jeans e camisas camufladas. Nos pés de alguns, sandálias. Nas mãos de todos, fuzis.

Uma das salas do QG foi destinada a ser depósito de armas. Há minas terrestres e lança-morteiros, ao lado de um estoque de máscaras anti-gás. A suspeita de que o regime lançará mão de armas químicas para debelar a insurgência cresce a cada dia.

Se a 35 km dali, na cidade de Tal Rafat, da qual a Folha partiu, os rebeldes exalam confiança numa vitória já garantida, em Aleppo a tensão é o sentimento dominante.

O ruído de explosões é constante. Cinco minutos após a chegada da reportagem ao QG rebelde, um morteiro explodiu a metros dali.

Para estar preparados para combates que se anunciam cada vez mais ferozes, muitos rebeldes em Aleppo abriram mão de observar o jejum neste mês de ramadã.

CRUZ VERMELHA

A Cruz Vermelha anunciou ontem a retirada de parte de seu pessoal de Aleppo e da capital síria, Damasco. A retirada foi determinada pelo agravamento dos conflitos e a consequente deterioração das condições de segurança.

Como maneira de levantar o ânimo e impulsionar para a luta, os insurgentes instalaram na entrada de Aleppo dois veículos incinerados que pertenceram às "shabiha" (fantasma, em árabe), as milícias pró-Assad que estupram, torturam e matam insurgentes.

Expostos em praça pública, assemelham-se à carcaça de um regime que ameaça implodir.

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.