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Síria inicia ofensiva para retomar Aleppo

Tanques do governo Assad, apoiados por helicópteros, forçam entrada em áreas rebeldes da maior cidade do país

'Estamos cercados por todos os lados', admite comandante opositor; ataque deixou pelo menos 33 mortos ontem

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ALEPPO

Depois de uma semana de pesados confrontos em Aleppo, a maior metrópole da Síria está dividida entre ruas sob tênue domínio rebelde e cenários de guerra aberta.

Ontem, tanques apoiados por helicópteros do regime de Bashar Assad lançaram sua esperada ofensiva para retomar totalmente a cidade de 2,5 milhões de habitantes, estratégica no conflito. Pelo menos 33 pessoas morreram na cidade e 120 no país.

Abdulkader al Saleh, comandante do ELS (Exército Livre da Síria) na cidade, admite: "Estamos cercados por todos os lados".

De chinelos e fuzil Kalashnikov, Al Saleh, 38, que largou um próspero negócio de importação de alimentos para comandar milhares de combatentes contra o regime, não se dá por vencido.

"Lutamos batalhas mais difíceis do que essa. Nossa vantagem é a natureza da cidade, com prédios altos e ruas estreitas. Estamos prontos para lutar até o ultimo suspiro", afirma.

No fim da tarde de ontem, sinais de telefones por satélite foram cortados e os rebeldes começaram a se retirar de sua base, antevendo o início de uma ofensiva maciça do regime. A Folha também deixou a cidade às pressas.

O corte nas linhas de comunicação também antecedeu massacres ocorridos nos últimos meses, reforçando a sensação de que o ataque era iminente. Ontem, até os prisioneiros capturados pelos rebeldes foram transferidos.

No centro da cidade, poucos metros separam a área "libertada", na qual o comércio tenta timidamente reabrir as portas, e os intermitentes tiroteios intercalados por bombardeios de helicópteros e artilharia do regime.

EUFORIA E DESALENTO

A Folha chegou até uma das portas da cidade antiga, monumento mais famoso de Aleppo, onde o mau cheiro das montanhas de lixo não recolhido é a marca mais visível do caos provocado pelos combates.

No território que controlam, os insurgentes patrulham as ruas com carros capturados da polícia cobertos pela bandeira rebelde e assumem o papel de polícia e governo, organizando as longas filas formadas nas padarias.

Mas trata-se de um domínio frágil, sustentado por um arsenal reduzido que não parece capaz de fazer frente ao poder de fogo do regime, especialmente aéreo. Helicópteros fazem bombardeios pontuais, aterrorizando a população.

O moral dos rebeldes oscila entre a euforia e o desalento. Na manhã de ontem, gritos de vitória ecoaram na escola que serve de base aos rebeldes quando chegou a notícia de que dez tanques do Exército de Assad haviam sido destruídos.

Pouco depois, os gritos deram lugar ao desânimo quando os corpos de quatro soldados mortos por atiradores do Exército foram trazidos. Um deles, conhecido como Abu Hamze, era um dos comandantes mais queridos.

Perto dali, um grupo de dez mulheres vestidas de negro surgiu do nada, caminhando com bolsas pelas ruas devastadas. Estavam vindo de Salahadin, o bairro onde estão sendo travados os maiores combates.

"Helicópteros dispararam o dia todo, há muitos mortos", chorava uma delas, descontrolada. "Os soldados entraram no bairro e fizeram buscas de casa em casa."

Al Saleh, o comandante rebelde, diz que a batalha de Aleppo é crucial para o regime por dois motivos: primeiro, por ser a capital econômica do país.

Além disso, diz ele, a captura da cidade seria um passo significativo para a criação de uma "zona de segurança" no norte do país, depois que os rebeldes conquistaram grandes porções de território na região.

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