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Análise

Estrutura autoritária deve continuar mesmo após Assad cair

FAWAZ GERGES
DO "GUARDIAN"

Existe a suposição de que, assim que o ditador Bashar Assad renunciar, o regime que tem por base a sua família desabará como uma casa de vidro. Mas a estrutura do Estado autoritário na Síria provavelmente continuará a existir, não importa o momento em que Assad caia.

Os Assad passaram quatro décadas salvaguardando as bases do autoritarismo político e cooptando comunidades sociais, políticas e étnicas. A seita islâmica minoritária de Assad, os alauitas, serve como vanguarda e base de seu poder. Mas outros grupos legitimam o regime: cristãos, drusos e parte da classe de comerciantes e da nova burguesia sunita.

O domínio dos Assad dependeu não só de coerção e hegemonia, mas da cooptação de grupos e comunidades. Hafez Assad, pai do ditador, dava postos importantes e cultivou laços com empresários sunitas. Promoveu redes financeiras e de negócios em Damasco e Aleppo.

Para legitimar seu domínio, os Assad investiram o Estado autoritário de ideologia de nacionalismo pan-árabe e resistência a Israel: colheram capital político precioso nas nações árabes vizinhas.

A coalizão construída pelos Assad parece estar enfraquecida sob o ataque de um levante armado persistente e dinâmico. Há cada vez mais indicações de rachaduras no sistema, o que inclui deserções de oficiais sunitas e a fuga dos profissionais liberais e da classe média, que servem de base social ao regime.

As sanções das potências ocidentais causaram graves danos à economia síria e reduziram a capacidade do regime de comprar influência.

Embora o regime pareça enfrentar o acerto de contas final, talvez seja cedo demais para escrever o obituário do Estado autoritário.

O aparelho de segurança ainda consegue usar força maciça e o Estado policial ainda funciona. À medida que a disputa ganha caráter mais sectário, o regime recorrerá às milícias para prolongar sua sobrevivência.

Assad se beneficiou por a crise ter se tornado parte da disputa do Irã e de seus aliados com a Arábia Saudita e os países do golfo Pérsico.

A Rússia impede resoluções contra a Síria, mas o papel principal é o do Irã -o apoio iraniano, do Hizbollah e do Iraque dão válvulas de escape a Assad. A questão não é quanto tempo ele governará, mas se a estrutura autoritária lhe sobreviverá.

Ironicamente, a diplomacia internacional adotou como foco forçar a saída de Assad, mas manter o sistema. A ideia é evitar um vácuo de segurança como o surgido no Iraque e a guerra civil aberta.

Isso significa que a Síria pós-Assad enfrentará sérios desafios, que podem prolongar sua transição do autoritarismo político ao pluralismo.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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