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Clóvis Rossi

Tio Sam quer você

Prioridade da diplomacia norte-americana é o intercâmbio de estudantes com Brasil

Uma das máximas prioridades da diplomacia norte-americana no Brasil é atrair estudantes, de graduação e de pós, para suas universidades, com a natural contrapartida, ou seja, a vinda da garotada dos EUA para estudos no Brasil.

É um sinal dos tempos: a relação entre os dois países tornou-se tão boa nos últimos anos, especialmente na era Lula e agora com Dilma Rousseff, que acaba ficando monótona (para a mídia). Os diplomatas norte-americanos tomam essa constatação, com a qual concordam, como um cumprimento. Afinal, a missão deles é exatamente a de promover o melhor relacionamento possível com todos os países do mundo ou, pelo menos, com aqueles predispostos à reciprocidade.

No caso de Dilma, a fome dos EUA em enviar estudantes e acolher os brasileiros lá junta-se com a vontade de comer da presidente, que fez do programa "Ciência sem Fronteiras" a sua menina dos olhos, que ela trombeteia em todos os países que visita.

Para quem ainda não tomou conhecimento, "Ciência sem Fronteiras" é um programa que busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira, por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional.

O programa prevê 101 mil bolsas integrais para estudantes brasileiros, 75 mil financiadas pelo governo e as restantes pela iniciativa privada. Claro que os EUA não são o único parceiro, mas são o maior: em quatro anos, a intenção é colocar 50 mil estudantes brasileiros nas universidades norte-americanas.

Sempre haverá algum "americanofóbico" que dirá que o interesse de Tio Sam é lavar o cérebro dos desavisados tapuias. Tolice. Só tem o cérebro lavado quem não o usa ou usa pouco.

Tanto é tolice que a China -hoje o maior rival dos EUA- é quem manda o maior número de estudantes para universidades norte-americanas: 202 mil no ano letivo 2010/11.

O que mobiliza a diplomacia norte-americana é a firme convicção de que o "american way of life" é encantador o suficiente para conquistar corações, em especial suas universidades. Afinal, 13 das 20 mais vistosas grifes acadêmicas do planeta são "made in USA". Das outras sete, seis também falam inglês -e esse é um ponto que trava o avanço do programa de bolsas.

Há poucos candidatos brasileiros aptos em inglês. Tanto que, até abril, havia apenas 15.517 brasileiros em escolas norte-americanas.

Que fiquem longe dos 202 mil chineses é natural. Afinal, a China tem sete vezes mais habitantes que o Brasil. Mas o Brasil perde feio da pequena Coreia do Sul (107 mil) e da Arábia Saudita (51.999).

Os números subdesenvolvidos, por assim dizer, aparecem também no sentido inverso, dos EUA para o Brasil: sempre no ano letivo 20110/11, havia mais estudantes norte-americanos no México, na Argentina e no Chile do que no Brasil, aliás empatado com o minúsculo Equador (3.099 norte-americanos no Brasil, 2.960 no Equador).

Vai ser preciso, pois, um baita esforço para de fato "internacionalizar" o estudantado brasileiro.

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
Luiz Carlos Bresser-Pereira

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