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Cubanos começam a reconstruir mercado de imóveis residenciais

Setor se aquece com liberação da compra, mas dúvidas persistem

DO “NEW YORK TIMES”

A administradora universitária sabe que está entre os privilegiados por dispor de um pequeno apartamento em um dos bons bairros da Velha Havana, dado a ela pelo governo em troca de um aluguel quase invisível.

Mas, ao exibir o imóvel de dois aposentos a um visitante, ela pergunta: "Quieres permuta? [quer trocar?]".

Desde a revolução da década de 50, a troca ou comércio não monetário de imóveis vinha sendo a única maneira pela qual moradores podiam trocar de acomodações. Os imóveis eram propriedade do governo, e vendas privadas estavam proibidas.

Em 2010, a lei foi reformada, autorizando a compra de imóveis, ainda que esteja limitada a uma casa na cidade e a uma segunda no litoral ou na montanha, para férias.

Desde a mudança, o número de vendas de imóveis vem aumentando. Segundo o "Granma", jornal do Partido Comunista, 2.730 vendas aconteceram no primeiro trimestre de 2012, e outras 10,7 mil transações foram registradas formalmente para legalizar permutas anteriores.

Os preços em Cuba tendem a ser muito mais baixos que nas demais nações do Caribe, ainda que os vendedores ocasionalmente exijam pagamentos adicionais "por fora", a fim de evitar tributação.

O preço inicial de um apartamento básico é em geral de 15 mil pesos conversíveis, ou US$ 15 mil, se bem que esses imóveis têm baixa qualidade e localização indesejável.

Algo mais habitável, com um ou dois quartos, custa cerca de 50 mil pesos conversíveis, e as casas de três e quatro dormitórios custam a partir de 80 mil pesos conversíveis, dependendo do local.

Os compradores se queixam da falta de preços de referência. "Não havia mercado, por isso ninguém sabia quanto vale uma casa. Os preços pedidos são completamente diferentes em dois locais idênticos", disse um dono de restaurante, que não tem seu nome divulgado por temer represália do governo.

Ele disse que alguns proprietários só aceitam pagamento em euro ou dólar e que têm expectativas irreais sobre o valor de seus imóveis.

Em Cuba, a iniciativa privada continua severamente restrita, e muitos trabalhadores ganham salário de 20 pesos conversíveis ao mês, imposto pelo governo, o que torna até mesmo os imóveis mais baratos inacessíveis.

Muitos dos que compram usam dinheiro recebido legalmente de parentes ou amigos que vivem fora de Cuba.

Os estrangeiros que têm visto de residência podem comprar imóveis nos mesmos lugares que os cubanos, ainda que o preço solicitado a eles costume ser maior, enquanto os estrangeiros não residentes na ilha têm seu direito de compra limitado a condomínios específicos.

Segundo um corretor de imóveis, compradores internacionais sem visto de residência devem estar preparados para preços de 125 mil pesos conversíveis por um apartamento de um quarto e cerca de 65 metros quadrados em um bom edifício, com piscina e academia de ginástica.

Ainda que o mercado pareça estar se abrindo, poucos moradores expressam muita confiança nas mudanças.

"Hoje podemos comprar e vender, mas muitos ainda sentem não haver segurança de posse", diz o dono de restaurante. "As leis podem mudar de um dia para o outro."

TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI

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