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Total de mortos já chega a 300 após terremotos no Irã

Vítimas são moradores de vilarejos de barro e madeira nos confins de região do país dominada pela etnia azeri

Autoridades locais contam 300 mortos e 5.000 feridos; sismos são os mais mortais do ano no mundo

Arash Khamoushi/Associated Press
Mulheres iranianas choram por mortos em terremoto que atingiu o vilarejo de Baje Baj
Mulheres iranianas choram por mortos em terremoto que atingiu o vilarejo de Baje Baj

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAJE BAJ (IRÃ)

Sentada ao fundo de uma barraca branca sacudida pelo vento, a dona de casa Fatemeh, 46, chora sem parar.

"Deus, por que você levou meu filho? Ele tinha apenas seis anos", grita, amparada por outras mulheres que também tiveram a vida destroçada pelos dois terremotos de sábado no noroeste do Irã, de magnitudes 6,2 e 6.

São os sismos que fizeram o maior número de vítimas neste ano no mundo.

Autoridades locais contabilizaram 300 mortos e 5.000 feridos. Mais tarde, porém, o ministro do Interior, Mostapha Najar divulgou diferentes números. "Infelizmente, temos 227 mortos e 1.380 feridos", disse Najar a uma TV estatal. As operações de resgate foram encerradas ontem, segundo o ministro.

Quase todas as vítimas são moradores de vilarejos construídos com barro e madeira nos confins da região dominada pela etnia azeri, que fala um dialeto turco.

Os azeris são cerca de 20 milhões no Irã.

O filho de Fatemeh morreu quando a casa onde vivia desmoronou em Baje Baj, uma das 12 aldeias de beira de estrada que ficaram totalmente destruídas.

Baje Baj, visitada na tarde de ontem pela Folha, virou mar de escombros cor de terra que desce ladeira abaixo rumo a um riacho. Em meio a ruínas irreconhecíveis, seguem erguidos -mas sem funcionar- os postes de iluminação, feitos de concreto.

Ao menos 33 dos 414 moradores morreram, segundo o Crescente Vermelho, braço da Cruz Vermelha em países islâmicos.

Os mortos foram enterrados às pressas num cemitério do outro lado da estrada. Sem material para construir túmulos, os homens da aldeia apenas jogaram terra por cima dos corpos.

Sobreviventes vasculham o que restou de Baje Baj à procura de móveis e objetos pessoais. Formam-se pequenos amontoados de louça, brinquedos e papéis. "O mais importante é achar o dinheiro e as pequenas quantias de ouro armazenados pelas famílias", diz Fazlolah, 29.

VACA SOTERRADA

Um menino irrompe apressado pedindo ajuda para tirar dos escombros uma vaca recém-encontrada. Olhos entortados de dor, o animal muge enquanto começam a ser retiradas as primeiras pedras.

A noite chega fria e ventosa nas montanhas azeris. Os desabrigados fazem fila atrás de uma picape onde são distribuídos cobertores. Em seguida, cerram-se em barracas brancas, como a de Fatemeh, instaladas na beira de estrada pelo Crescente Vermelho.

Uma moça que perdeu dois sobrinhos resume o sentimento no ambiente. "Enterrei meus mortos e sequei minhas lágrimas. A tristeza cede lugar ao medo do futuro que nos espera".

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