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eleições EUA

Professor moldou austeridade de Ryan

Candidato republicano a vice e ídolo do Tea Party se inspira em teóricos do liberalismo econômico, conta mentor

Menino prodígio da Universidade Miami, em Ohio, Paul Ryan era um aluno estudioso, calado e muito metódico

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Richard Hart se lembra do garoto tranquilo, metódico, responsável, que pouco falava durante as aulas mas adorava marcar horas extras no plantão do professor na Universidade Miami em Ohio.

"Não para falar de notas", diz. "Era para discutir filosofia e política econômica."

Na semana passada, o aluno voltou a Ohio. Hart disse ter se emocionado no palanque ao lado do deputado Paul Ryan, quatro dias após ele ser anunciado candidato a vice-presidente pelo Partido Republicano e 21 anos após ter lhe ensinado economia.

"Sabe, a gente ainda é amigo", afirmou à Folha, orgulhoso ao narrar o evento que levou 5.500 pessoas na quarta-feira ao campus em Oxford, oeste do Estado de Ohio.

Foi ali que Ryan, 42, se formou em economia e ciência política em 1992 antes de se mudar para Washington, onde trabalharia como assessor parlamentar até ser eleito, em 1999, aos 28 anos.

"Não tinha ideia de que ele entraria na política, tinha vários alunos como ele, superbrilhantes", conta Hart. "Mas sabia que ele teria sucesso."

Foi no plantão de dúvidas que Hart se aproximou de Ryan, em 1991. Os encontros eram frequentes e animados.

"Havia três coisas que ele lia muito na época: John Locke, Friedrich Hayek -passamos bastante tempo debatendo 'O Caminho para a Servidão'- e Milton Friedman, Paul lia muita coisa dele."

O filósofo político inglês do século 17, o Nobel de economia austríaco (1899-1992) e Friedman (1912-2006), influente economista (e Nobel)americano, formam a santa trindade do liberalismo econômico que, segundo Hart, moldou as ideias de Ryan.

Quando o deputado voltou à universidade para discursar na formatura de 2009, atribuiu ao campus sua visão econômica, a mesma visão austera repetida em comícios com Mitt Romney país afora.

O único mentor citado no discurso, em que exortou os formandos a "não cederem ao conformismo da direita nem da esquerda", foi Hart.

Aos 65, o professor se declara "quase um libertário", preferia nas primárias republicanas Gary Johnson e não acredita que o aquecimento global tenha causa humana.

Os dois seguiram próximos até 1994 e voltaram a trocar e-mails após a visita de 2009. Hart buscou o ex-aluno no aeroporto e eles passaram três horas em um restaurante barato pondo o papo em dia.

"Ele não mudou", insiste. "Paul sempre foi mais um cara de desenhar políticas do que um político- bom, exceto pela conversa envolvente."

FARDO PRECOCE

Hart atribui à história familiar do deputado outro vértice de sua personalidade: o senso de responsabilidade.

"Ele assumiu o fardo muito cedo", afirma o professor, lembrando que Ryan perdeu o pai, um advogado, aos 16. A partir daí, virou em parte o chefe da casa, mesmo sendo o caçula de quatro irmãos e tendo a mãe presente.

Hart diz não se lembrar dos amigos de Ryan na época.

Na imprensa americana, não há registro de garotas antes de Janna, a advogada e lobista bem-nascida que ele conheceu em Washington e com quem se casou em 2000.

O casal vive em Janesville, cidadezinha de Wisconsin onde o deputado cresceu, com os filhos Liza, 10; Charlie, 8; e Sam, 7. Ryan aparece nos jornais caçando e pescando. Janna é dona de casa.

Indagado sobre as opiniões sociais do ex-aluno, Hart tenta se lembrar. "Acho que nunca falamos disso. É algo que não me interessa, e que sempre achei que os republicanos deveriam evitar."

O histórico de votação de Ryan, católico devoto, mostra que ele é antiaborto. Mas raramente aborda a questão.

Seu apelo à base conservadora -ele é um dos ídolos do movimento Tea Party- vem de sua insistência em enxugar os gastos do governo.

São essas ideias, palpita Hart, que podem atrair os mais jovens. "Você notou a mudança na campanha? Agora estão falando sobre o que fazer para solucionar os problemas", diz, otimista demais para uma eleição marcada pela troca de acusações.

O professor se aposenta no fim do semestre, após 38 anos lecionando. Ele acha que o aluno chegará a presidente?

"Espero que sim, e espero estar vivo", diz, emendando um tom paternal. "Ele seria um presidente maravilhoso."

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