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Em 60 dias, Franco reverte ações de Lugo

Medidas do novo presidente do Paraguai sobre a questão agrária são vistas como "contrarreforma" por sem-terra

Vice que assumiu após impeachment responde ao isolamento do país com tom ambíguo sobre Itaipu e Mercosul

ISABEL FLECK
FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO

Dois meses depois de chegar ao poder com o contestado impeachment-relâmpago de Fernando Lugo, Federico Franco já dá sinais de que, em sua rápida passagem pela Presidência -até agosto de 2013-, quer conduzir o país em direção oposta à traçada pelo antecessor.

Na política interna, o que se viu foi a rápida aprovação de medidas às quais Lugo resistia -como a autorização para plantio de algodão transgênico- e decisões sobre a gestão de terras já consideradas pelos sem-terra uma "contrarreforma agrária".

Uma delas foi o pedido de Franco ao Congresso para sancionar uma lei que permite vender, a "preço de mercado", terras que seriam destinadas à reforma agrária.

"É um retrocesso. Os camponeses não vão comprar porque não têm dinheiro. Vai cair justamente nas mãos dos sojicultores", diz o líder da Mesa Coordenadora Nacional de Organizações Camponesas, Luís Aguayo.

Outras decisões que incomodaram os camponeses foram a possível revisão da lei que proíbe a estrangeiros terem propriedades na faixa de 50 km a partir da fronteira e a suspensão, por decreto, da auditoria sobre as terras do brasileiro Tranquilo Favero, maior sojicultor do Paraguai.

"Isso implica abrir a possibilidade de legalizar milhões de terras [irregulares] e põe em risco a nossa própria soberania", avalia José Rodríguez, presidente da Liga Nacional dos Carperos.

Segundo Luis Ortigoza, presidente do Indert (Incra paraguaio), tanto a decisão sobre a venda de terras públicas quanto a revisão da lei sobre a faixa de fronteira ainda não foram "concretizadas".

"Não vamos levar adiante nenhuma medida sem a devida consulta com os setores afetados", assegurou.

Ele ainda explicou que a auditoria nas terras de Favero encontrou apenas "pequenas parcelas de terras públicas", que não justificavam continuar as medições.

Para o empresário brasileiro Aurio Frigueto, que vive há 42 anos no Paraguai, o governo Franco já resgatou, em dois meses, a "segurança jurídica da propriedade privada".

"Agora podemos dormir tranquilos, porque sabemos que, no dia seguinte, vamos ter os nossos títulos respeitados", afirma o brasiguaio.

AMEAÇAS

No plano externo, Franco responde ao isolamento imposto pelo Mercosul e pela Unasul com declarações ambíguas sobre seus compromissos com os países vizinhos.

Na última semana, anunciou a intenção de realizar um referendo nas eleições de 2013 sobre a continuidade do país no Mercosul. No mês passado, declarou que o país não estava mais disposto a "ceder" ao Brasil e à Argentina sua energia excedente das usinas de Itaipu e Yacyretá.

As duas medidas, contudo, não são permitidas. A primeira, pela Constituição, e a segunda, por acordos bilaterais com Brasil e Argentina.

Coube ao chanceler José Félix Estigarribia baixar o tom, esclarecendo que os planos sobre Itaipu são aumentar a industrialização do país para consumir toda a energia a que o Paraguai direito.

O polêmico projeto para instalar uma fábrica da Rio Tinto Alcan no país faria parte deste projeto. "Um governo ilegítimo quer tomar uma decisão que pode afetar o país por décadas", critica Gustavo Codas, diretor-geral de Itaipu na gestão Lugo.

Para o analista Alfredo Boccia, a aliança entre Franco e o Partido Colorado (tradicional agremiação política) para a saída de Lugo começa a perder força. "Os colorados já veem o governo como adversário. Vão começar a bloquear projetos, como faziam com Lugo."

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