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Eleições EUA

Medo vence esperança na eleição dos EUA

Misto de resignação e indignação dá o tom da campanha presidencial; republicanos começam amanhã convenção

Referências negativas a Obama e Romney na mídia estão em alta; parte do evento republicano foi adiada

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A TAMPA (FLÓRIDA)

Um cartaz lacônico nos estabelecimentos comerciais em Tampa dá as boas-vindas à convenção republicana desta semana. Só. Não há festa, e o medo de protestos e de um furacão ocupa mais os jornais do que a espera pelo evento.

A recepção morna à reunião que inicia (por lei) a corrida à Casa Branca, ao oficializar Mitt Romney como rival de Barack Obama, tem motivo: perante a de 2008 -que atraiu 61,6% do eleitorado, o pico em 40 anos no país com voto opcional- esta campanha não passa de um misto de resignação e indignação.

"O otimismo e a animação envolvendo a reeleição de Obama se esvaíram, e sua mensagem se baseia em atacar Romney, dando ao eleitor razões para temê-lo", disse à Folha Anthony Corrado, especialista em campanhas no centro de estudos Brookings.

"Já a mensagem de Romney é que Obama fracassou e o país está no rumo errado. É uma campanha focada mais em medo que em esperança."

O Projeto Pew pela Excelência no Jornalismo corrobora: este ano só se equipara a 2004 em menções negativas aos candidatos na mídia. São 72% para Obama e 71% para Romney (em 2008, Obama teve 31%, e John McCain, 57%).

"Obama perdeu o entusiasmo da ala mais progressista", resume o historiador Alexander Keyssar, de Harvard.

Além de sua performance, pesa a mudança de percepção inevitável para um presidente em exercício. "Não estamos mais no meio da crise financeira, e Obama e os democratas hoje parecem ter ao menos alguma responsabilidade pelo estado das coisas."

Essa mudança alimenta grupos de ação política como o American Crossroads, ligado ao estrategista republicano Karl Rove e empenhado mais na campanha anti-Obama do que na pró-Romney.

"A promessa de esperança de Obama em 2008 se estilhaçou na realidade de 2012", afirma Jonathan Collegio, diretor de comunicação do grupo. "Desde sua posse, a economia continuou parada, e o tom em Washington está mais amargo do que nunca."

Graças a uma decisão da Suprema Corte em 2010, grupos como o de Rove têm, pela primeira vez, carta branca para arrecadar milhões com empresas e indivíduos e gastar na campanha -outra diferença fundamental na avaliação do professor Corrado.

Do outro lado, ganham os sindicatos, liberados para fazer campanha. Jeff Hauser, da AFL-CIO (a maior central dos EUA), se diz animado, embora receie que o caixa democrata seja superado.

Houser lembra que a indignação desta vez não está só na oposição, como em 2008.

"Pela primeira vez no passado recente, a campanha foca temas-chave da economia, como a bagunça deixada por George W. Bush, o papel de Wall Street e a desigualdade crescente entre o 1% mais rico da sociedade e os 99% restantes", diz, citando o movimento "Ocupe Wall Street".

Em quatro anos, a necessidade de respostas só cresceu.

O Partido Republicano decidiu, na noite passada, adiar o primeiro dos quatro dias de convenção temendo a tempestade tropical Isaac, que chega à região hoje. A abertura ocorrerá amanhã, mas os discursos e a unção de Romney esperarão até terça -repetindo o que ocorreu em 2008 com o furacão Gustav.

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