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Angola resgata ex-colonizador Portugal

Pobre, mas com muito petróleo, país africano, que promove hoje eleição, aumenta investimento em europeu em crise

Votação deve dar novo mandato de cinco anos ao presidente José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979

BRUNO FARIA LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LISBOA

Desde que tomou posse há um ano, o governo português já realizou 12 visitas oficiais a um único destino: Angola.

A mensagem oficial do país europeu em crise financeira para a ex-colônia africana tem sido clara. "O capital angolano é muito bem-vindo", afirmou o premiê Pedro Passos Coelho, em novembro.

Portugal acompanha hoje com atenção, portanto, a eleição que deve dar novo mandato de cinco anos para o presidente José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979.

Apesar de criticado por corrupção, falta de transparência e autoritarismo, Santos é agora visto como salvador. Seu país tem índices enormes de pobreza, mas, grande produtor de petróleo, também tem capital sobrando.

DIFICULDADES

"Estamos conscientes das dificuldades que o povo português tem atravessado. Angola está disponível para ajudar Portugal", disse Santos.

Líder do partido MPLA, de origem marxista, ele é favorito absoluto. A campanha é feita pelo marqueteiro petista João Santana, que adaptou para Angola bandeiras como o Minha Casa, Minha Vida.

Impulsionada pelo petróleo, a economia angolana deverá crescer 17% este ano, segundo o FMI. Em Portugal há previsão de contração de 3%.

Com US$ 31 bilhões de reservas cambiais originadas pelo petróleo, Angola é um investidor rico, apesar de figurar no 148º lugar do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU (em 187 países).

"A economia portuguesa precisa de capital estrangeiro e o investimento angolano é bem-vindo e importante para Portugal", afirma Luís Mira Amaral, presidente do Banco BIC Português, um banco privado de capitais luso-angolanos.

Angola passou a exportar capital para Portugal com mais intensidade desde 2009. O investimento feito em bancos, energia e comunicação é liderado pela discreta Isabel dos Santos, 39, filha do presidente.

Em Portugal, a empresária pôs dinheiro em TV a cabo (tem 19,8% da Zon Multimédia) e em bancos (19,4% do Banco BPI e 25% do BIC).

Por meio de uma offshore, ela detém cerca de um terço da petrolífera portuguesa Galp, em parceria com a petrolífera estatal angolana Sonangol.

Além disso, membros da elite empresarial, política e militar angolana investem bilhões difíceis de contabilizar em Portugal -de indústrias cerâmicas e de cimentos a apartamentos de luxo e quintas na região vinícola do Douro. "Há procura crescente para o segmento de luxo por parte de Angola", afirma Eurico Silva, que dirige o escritório da Sotheby's International Realty no Estoril, uma das principais áreas de luxo da capital, Lisboa.

"Portugal é um mercado que oferece segurança em termos políticos e a falta de liquidez deprime os preços. Os angolanos veem a oportunidade e têm feito compras a preços interessantes", diz.

Em Lisboa a presença da elite de Angola tornou-se bem visível em lojas, hotéis e condomínios de luxo.

NOVOS RICOS

Os grandes grupos de mídia portugueses publicam histórias sobre os grandes negócios e sobre a vida social da nova classe angolana endinheirada.

"Há anos havia um clima hostil na imprensa portuguesa em relação a Angola, que entretanto desapareceu", observa Xavier Figueiredo, editor do África Monitor, um serviço de informação estratégica sobre Angola.

O país ainda é apontado por ONGs como Human Rights Watch e Transparência Internacional como um dos mais corruptos do mundo. Enquanto isso, 68% dos 20 milhões de angolanos vivem com menos de US$ 2 por dia.

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