Índice geral Mundo
Mundo
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Tragédia gera dúvida sobre caixa de Chávez

Explosão que matou 42 em refinaria levanta questões sobre solidez da PDVSA, que financia programas sociais na Venezuela

Presidente, que tenta sua reeleição em outubro, depende de dinheiro da estatal do petróleo para se manter como favorito

Mirafores/Efe
Presidente Hugo Chávez visita criança vítima de explosão em refinaria da estatal PDVSA
Presidente Hugo Chávez visita criança vítima de explosão em refinaria da estatal PDVSA

FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO

A explosão que matou 42 numa refinaria da PDVSA, a estatal do petróleo da Venezuela, pôs sob escrutínio a empresa responsável pela maior parte dos programas sociais do governo Hugo Chávez, que tenta a reeleição no próximo dia 7 de outubro.

A tragédia de oito dias atrás ocorreu na hora em que o país tenta estancar a queda de sua produção petrolífera.

As causas do acidente na refinaria de Amuay ainda estão sob investigação, mas causou controvérsia a informação de que nove das 12 paradas para manutenção da unidade, previstas para 2011, não ocorreram. O motivo foi "falta de material".

"Ninguém discute que a PDVSA deve aumentar os aportes ao fisco, mas o pilar do modelo econômico chavista é que dê suporte a todas as ações do governo", afirma Asdrúbal Oliveros, da consultoria venezuelana Ecoanalítica.

A estatal diz ter investido em 2011 9% do faturamento, ou US$ 9 bilhões (R$ 18 bilhões) -taxa baixa em relação às congêneres na América Latina. A Petrobras diz ter aplicado 29% do faturamento; a mexicana Pemex, 17%.

Enquanto isso, a empresa elevou os "aportes para o desenvolvimento" entre 2010 e 2011, de US$ 20 bilhões (R$ 40 bilhões) para US$ 39 bilhões (R$ 79 bilhões). Metade fluiu sob a rubrica "programas sociais", pouco mais do dobro do orçamento anual do Bolsa Família em 2011.

O repasse não inclui impostos e taxas ao fisco. Os recursos foram aplicados diretamente pela PDVSA -cuja atuação vai desde atendimento de saúde à habitação- ou canalizados a fundos criados por Chávez e comandados pelo próprio presidente.

"É a socialização do capital obtido no mercado internacional petroleiro. Foi o que possibilitou a melhora dos índices sociais", diz Andres Giuseppe, autor do livro "Petrodiplomacia e Economia na Venezuela", lançado em 2010 por uma editora estatal.

O argumento é repetido por Chávez, favorito para obter seu terceiro mandato consecutivo de seis anos: só com "a nova PDVSA" foi possível baixar em 20 pontos a taxa de pobreza, de 48,6% em 2002 para 27,8% em 2010.

Oliveros diz que o modelo é vulnerável porque depende de preço de petróleo muito alto -a era chavista teve a média de preços mais alta em 50 anos. Quando o preço despencou em 2009, o aporte social da PDVSA foi de só US$ 6 bilhões (R$ 12 bilhões).

Num sinal de que o chavismo ganhou a batalha comunicativa em torno do tema, a oposição evita pontos polêmicos nos planos para o setor, do qual a Venezuela depende mais hoje do que na estreia de Chávez.

Segundo Leopoldo López, coordenador da campanha do candidato opositor, Henrique Capriles, a oposição não vai mexer na lei de nacionalização do petróleo, de 2007, que mudou as regras para parcerias com privados.

"Vamos focar no aumento da produção", afirma López. A oposição diz que a PDVSA seguirá financiando os programas sociais.

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.