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Em videoclipe, Farc aceitam negociação

Guerrilha diz que conversará com governo da Colômbia "sem rancores nem arrogância" em vídeo que ironiza o presidente

Ao som de cúmbia, um ritmo latino popular, guerrilheiros citam o uso de aviões da Embraer nos combates

Efe/reprodução de vídeo das Farc
Guerrilheiros cantam no "vídeo da paz" divulgado ontem
Guerrilheiros cantam no "vídeo da paz" divulgado ontem

DE SÃO PAULO
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) responderam ontem de forma inusitada ao anúncio de negociações de paz com o governo do país.

Divulgaram um videoclipe pela internet, recheado de ironia, em que dizem que aceitam negociar a paz "sem rancores nem arrogância".

O vídeo, de quase cinco minutos, é a primeira reação pública da guerrilha desde que o presidente Juan Manuel Santos confirmou, na semana passada, as conversas com as Farc para negociar o fim das quase cinco décadas de conflito armado.

"Chegamos à mesa de diálogo sem rancores nem arrogâncias", afirma Rodrigo Londoño, o Timochenko, que assumiu o comando do do grupo em 2011.

Depois, surgem guerrilheiros vestidos com camisas de Ernesto "Che" Guevara, cantando cúmbia, um ritmo latino popular, que o "pedante e burguês" Santos teve de recorrer ao diálogo porque não conseguiu derrotá-los militarmente.

"Ai, eu vou para Havana/ Desta vez para conversar/ com o burguês que nos procurava/ E não pôde nos derrotar", diz o refrão.

A letra menciona venda pelo Brasil de aviões militares Super Tucanos, da Embraer, à Colômbia. O país tem 25 aviões do tipo, um dos trunfos dos militares, pela adaptação ao combate na selva.

"O Brasil vendeu [à Colômbia] Tucanos/ E depois Super Tucanos/ Para com eles bombardear-nos ", diz a letra.

Os guerrilheiros-cantores, três homens e uma mulher, também citam o Plano Colômbia, "Um plano que foi feito pelos gringos/ Dólares com policiais", dos EUA. Desde 2000, Washington transferiu US$ 8 bilhões (R$ 16,3 bilhões) a Bogotá para luta antidroga e anti-insurgência.

Além do tom provocativo, a canção é uma mensagem para levantar o moral dos combatentes, que, segundo as estimativas, somam aproximadamente 8.000.

A canção louva chefes da guerrilha mortos, como o fundador Manuel Marulanda, e diz que as Farc não desistirão de objetivos históricos -nascida marxista, a guerrilha se financia com o narcotráfico.

A retórica revolucionária é substituída por uma agenda reformista para "pôr freio ao capital explorador". "Que fiquem na pátria/As riquezas naturais", cantam.

A mensagem também cita a Venezuela, que será "acompanhante" do diálogo e a Noruega, um dos "fiadores" do processo ao lado de Cuba.

Não é a primeira vez que as Farc recorrem à música. Um de seus líderes é Julián Conrado, "o cantor das Farc", que já fez gravações de vallenato, outro ritmo popular. Ele está preso na Venezuela.

O presidente Santos deve anunciar nos próximos dias detalhes sobre a negociação, que, segundo o governo, não implicará fim de combates.

Veja o clipe

folha.com/no1147538

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