Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Eleições EUA

Convenção confirmará Obama pragmático

Menos popular e mais 'pé-no-chão' que em 2008, presidente chega a Charlotte com um terço das promessas cumpridas

Eleição virou referendo sobre o que Obama não fez; para democratas, ele merece mais uma chance por ter tentado

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A CHARLOTTE (CAROLINA DO NORTE)

O Barack Obama que subirá ao palco do maior estádio de Charlotte quinta-feira, ao fim da convenção democrata iniciada hoje, não é aquele ovacionado por 80 mil pessoas em Denver ao falar da "Promessa Americana" e aceitar a candidatura à Presidência em 28 de agosto de 2008.

Quatro anos e uma crise econômica depois, as 508 promessas da campanha passada (segundo o site PolitiFact, que as monitora) deram lugar ao pragmatismo, óbvio na troca de slogans: "Esperança" virou "Para Frente".

Eleito com 53% dos votos e empossado com 67% de aprovação, Obama viu sua popularidade cair 22 pontos desde então, marcando uma média de primeiro mandato pior do que qualquer presidente do pós-Guerra exceto Gerald Ford (que serviu um mandato-tampão) e Jimmy Carter (que não se reelegeu).

As pesquisas, que nesse estágio em 2008 davam vantagem de quatro pontos a Obama contra o republicano John McCain, hoje o mostram empatado com Mitt Romney.

"O tsunami democrata de quatro anos atrás definhou, expondo uma linha de polarização parecida com a de 2004", escreve William Galston, um ex-assessor de Bill Clinton hoje no centro de estudos Brookings, em artigo na "New Republic" em que chama 2008 de "aberração".

Parte dessa deflação de expectativas vem da conjuntura -cinco anos imersos na pior crise econômica do pós-Guerra abalaram a confiança do consumidor-eleitor, segundo diferentes estudos. Parte vem do próprio Obama.

Das promessas de 2008, ele cumpriu pouco mais de um terço, 190. A marca é razoável, mas ficou para trás -a maioria foi cumprida na primeira metade do mandato, quando ele tinha dupla maioria no Congresso (a oposição assumiu a Câmara em 2011).

"Os resultados [de Obama] são um meio sucesso", disse à Folha Bill Adair, fundador e editor-chefe do PolitiFact.

"Ele fez um número inacreditável de promessas, [mas] a política nos EUA está tão polarizada que para aprovar qualquer coisa substantiva é preciso que o partido controle a Câmara e o Senado."

Das 318 promessas restantes, 83 foram postas de lado e 72 viraram um meio-termo com a oposição. As demais patinam no Congresso.

O resultado é que o Obama presidente, com feitos e defeitos conhecidos, é mais pé-no-chão do que aquele candidato que em 2008 inspirou milhões com sua história de vida instigante e seu idealismo, mas com um currículo magro.

"Desta vez ele tem prometido menos", diz Adair. "Em 2008, Obama tinha de provar a várias alas do Partido Democrata que era o nome certo para cada uma delas, daí as promessas específicas."

Diante desse quadro, a eleição virou um referendo mais sobre o que Obama não fez do que sobre o que ele fez.

O argumento de Romney é que o democrata tentou, falhou e não merece nova chance. O da campanha de Obama não é tão diferente -ele mereceria mais quatro anos porque tentou e avançou pontos importantes, ainda que em parte ofuscados por problemas mais urgentes.

Uma medida do apelo do presidente virá depois de amanhã, quando ele falará no estádio Bank of America, com capacidade para 74 mil.

Ontem, vazaram rumores de que a campanha ainda se preocupava com assentos vazios, embora em alguns locais a espera por uma entrada tenha gerado filas de quase 1 km.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.