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Kalle Lasn Ativista

Modelo do "Ocupe Wall St." se esgotou e perdeu a magia

Idealizador de protestos contra excessos do capitalismo diz que reuniões chatas e falta de um líder solaparam movimento

Carlo Allegri/Reuters
Polícia prende integrante do “Ocupe Wall Street” em ato em Nova York
Polícia prende integrante do “Ocupe Wall Street” em ato em Nova York

SOFIA FERNANDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM VANCOUVER (CANADÁ)

A hashtag #OccupyWallStreet convoca usuários do Twitter às ruas. A revista mensal "Adbusters" cria o mote: 99% da população que está longe do poder, unida, pode ir contra o poder do mercado e das grandes corporações.

Um ano atrás, em 17 de setembro, a ideia do ativista Kalle Lasn de fazer uma coisa "muito, muito louca" deu certo. Milhares encheram o Zuccotti Park, no centro financeiro de Nova York.

Desde então, o movimento ganhou vida própria. Lasn afirma, contudo, que a magia acabou. O modelo de ocupação literal das ruas por dias a fio está superado. "A magia só acontece uma vez."

Um próximo grande momento do "Ocupe Wall Street"? Talvez a criação de um terceiro partido nos Estados Unidos, diz o ativista.

Lasn recebeu a Folha em seu escritório, em Vancouver, no Canadá, onde trabalha com sete funcionários que estão abaixo dos 30 anos.

Ele, que beira os 70, não fala a idade e se refere à juventude na primeira pessoa do plural. "Acredito na juventude. Temos o poder de lançar uma revolução global se agirmos juntos."

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Folha - Um ano depois da primeira grande ocupação, como anda o "Ocupe Wall Street"?

Kalle Lasn - Movimentos têm muitas fases, e a primeira fase do "Ocupe" acabou.

Aqueles jovens dormiram no parque, acordaram juntos toda manhã para ter encontros maravilhosos. O idealismo estava florescendo, havia magia. As pessoas estavam falando do futuro. Isso não irá se repetir, não dessa forma. Porque magia acontece só uma vez. O modelo de Zuccotti Park acabou.

A brutalidade da polícia teve papel para forçar uma nova fase do movimento?

A razão principal foi que não estávamos mais agindo de forma conjunta. As reuniões tornaram-se chatas. Perdemos a magia. Mas a brutalidade da polícia foi uma das razões.

O que fez o movimento perder sua magia?

A falta de líderes colaborou para o fim desse primeiro momento do "Ocupe".

Você vai a uma reunião e tem que discutir por 20 minutos sobre quem vai responder e-mails ou tem que fazer algum trabalho protocolar estúpido. As pessoas ficavam falando por três horas. Isso cansa. Não havia um líder, ninguém tinha o direito de falar "Calados!".

Com líderes, o movimento não perderia o seu perfil de real democracia?

É o tipo de pergunta que todos estão se fazendo agora. Não gosto dos que acham que essa revolução tem que ser como as anteriores. Será diferente desta vez. Será caótico, louco.

Em alguns lugares, pode haver um líder, como na Rússia com o grupo Pussy Riot [banda punk de garotas que teve três integrantes condenadas à prisão por protestar contra Putin numa igreja].

Em outros, não. Temos que ser abertos a tudo. Exatamente como vai ocorrer, com ou sem líderes, ninguém sabe.

Haverá um próximo grande evento do "Ocupe"?

Criar um partido pirata pode canalizar muitas paixões, de muita gente insatisfeita. Mas não espero nada para agora. Depois dessa eleição [de novembro], a mais estúpida de todos os tempos, com os EUA em declínio, alguma coisa terá de acontecer.

Talvez o grande próximo "Ocupe" será o lançamento de um partido nos EUA, pelos jovens. Talvez as pessoas vejam que precisamos de uma terceira opção. Não dá mais para ficar entre Coca e Pepsi.

Então os americanos ainda não estariam dispostos e abertos à mudança?

Talvez não. Porque vivemos um momento estranho de limbo nessas eleições. As coisas não estão mais tão ruins nos EUA a ponto de haver protestos apaixonados como no ano passado.

O governo inflou a economia com muito dinheiro. Ainda assim, entre 15% e 20% dos jovens não conseguem um emprego. Mas, de alguma forma, você ainda sobrevive.

Não há dor o bastante, não há paixão.

Há críticas ao movimento, de que não gerou mudança, não apresentou reais demandas. O que sr. diz?

Não concordo. Algo muito mágico aconteceu e ainda está acontecendo. Milhares de jovens pelo mundo estão despertando para o fato de que o futuro não é nada além de mudanças climáticas, crise financeira e que nunca terão uma vida confortável como a que tiveram seus pais.

Vocês lançaram na "Adbusters" uma nova campanha, a "Transfira seu dinheiro". Poderia explicar?

Lançamos a hashtag #moveyourmoney para convocar as pessoas a transferir seu dinheiro de um grande banco a um banco comunitário, uma cooperativa de crédito ou banco pequeno. A meta: US$ 1 trilhão transferidos até o fim do ano.

É uma boa ideia para um ato global. Qualquer um pode ir ao banco e pedir seu dinheiro como protesto.

A "Adbusters" existe há mais de 20 anos. Por que criar um movimento como o "Ocupe Wall Street" em 2011?

Sempre tentamos todo tipo de transformações e movimentos radicais, como as campanhas Dia sem Compras ou Natal sem Compras.

Uns anos atrás, começamos a nos sentir mal em relação ao próprio futuro, o que gerou protestos na Grécia, jovens na Espanha fazendo coisas interessantes e radicais e, de repente, você tem a Primavera Árabe.

Tivemos o sentimento de que aquele era um momento especial. Foi muito especial.

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folha.com/no1150343

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