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Análise

País precisa da 'rua', mas também dos americanos

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Se é uma obviedade que qualquer protesto contra o que é considerado blasfêmia no Paquistão sempre terá contornos dramáticos, é verdade que o enfraquecido governo local manipula em seu favor o prevalente sentimento religioso e antiamericano.

A segunda maior nação islâmica do mundo, que tem quase um Brasil em população numa área menor que Mato Grosso, tem em sua formação um caráter religioso que a coloca à parte de países árabes em que os protestos começaram.

O Paquistão ("terra dos puros", no urdu local) nasceu em 1947 da violenta partilha da Índia britânica, na qual as áreas majoritariamente muçulmanas foram demarcadas.

Ainda assim, o governo defendia algum secularismo, o que esmaeceu. Nos anos 70, governos militares fomentaram o extremismo religioso e a islamização da sociedade como forma de manter a unidade nacional -e criar grupos extraoficiais para atacar alvos indianos.

Isso foi usado pelos EUA: a logística da guerra dos "mujahedin" contra a invasão soviética do Afeganistão passava toda pelo Paquistão. Depois, nos anos 90, o Taleban nasceu nas áreas tribais paquistanesas para tomar o poder em Cabul.

O resto é história: o Paquistão foi pressionado a aliar-se aos EUA na esteira do 11 de Setembro e seu governo acabou se esfarelando em 2008.

Os militares então não tomaram o poder nominal, mas a administração civil de Asif Ali Zardari é débil e a relação com os EUA se tornou ainda mais impopular.

A morte do terrorista Osama bin Laden em seu território, em 2011, acabou de vez com o que havia de boa vontade entre Islamabad e Washington. Se você é um político paquistanês, bater nos EUA é garantia de voto.

Polêmicas extremistas estão em alta, engrossando o caldo. Nos últimos meses, houve ataques contra a minoria xiita no sul paquistanês e uma adolescente cristã foi presa acusada de blasfêmia.

Se há um tema religioso envolvido com "algo" americano, a receita é clara. Declara-se um feriado para "estimular protestos pacíficos" e depois culpa-se o Ocidente pelo sangue derramado.

Esse é um cálculo que embute riscos. Se precisa da "rua", o Paquistão ainda não tem um substituto para os EUA como provedores de apoio financeiro -a China está na fila como investidora e aliada.

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