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Vivendo em NY, Chen planeja volta à China

Ativista cego que fugiu de prisão domiciliar diz que acampará em aeroporto se preciso

JAMIL ANDERLINI
DO “FINANCIAL TIMES”

Embora eu já tenha escrito milhares de palavras sobre o ativista chinês Chen Guangcheng, 40, é a primeira vez que nos encontramos.

Cego praticamente desde que nasceu, ele fugiu da prisão domiciliar num vilarejo no leste da China, chegou a Pequim e foi levado às escondidas à Embaixada dos EUA.

Depois de negociações frenéticas, chegou-se a um acordo pelo qual Pequim lhe deu um passaporte e ele foi para os EUA, onde agora estuda direito na Universidade de Nova York. Ele fala em linguagem didática e contundente, num mandarim elegante que não condiz com suas origens camponesas.

Chen pede para segurar meu gravador digital. "Tenho um apreço profundo por gravadores de áudio", diz. "Em 2005 ganhei um, que usei para documentar relatos sobre as práticas de planejamento familiar violentas do governo. Ele sobreviveu a inúmeras revistas e confiscos em minha casa. Ainda o tenho."

Sua alusão casual e desapaixonada ao trabalho que o levou a ter tantos problemas é assombrosa. Pergunto quais são suas primeiras impressões da América. "As pessoas comuns nos EUA não têm medo de expressar suas opiniões. Acho que esse é um dos fatores mais importantes a terem feito dos EUA o país mais poderoso do mundo", diz.

Seu trabalho para expor os abusos cometidos em nome da política chinesa do filho único é amplamente conhecido nos EUA.

O que dizer da sugestão incentivada pelo governo chinês de que, pelo fato de ter partido para os EUA, ele mostrou que é um joguete no plano dos EUA de desestabilizar o Partido Comunista? "O povo chinês é inteligente o suficiente para se perguntar como eu estaria sendo usado pelos EUA e para que fim."

Ele pretende voltar à China após concluir seus estudos. Quando digo que duvido que o governo chinês lhe permita voltar, ele faz pouco caso da minha preocupação.

"[O PC] não seria tão estúpido", diz ele. "Eles sabem que, se tentarem me impedir de voltar, não vou desistir. Tenho um passaporte chinês legal, e eles não têm motivo legítimo para me barrar." Ele diz estar preparado para acampar no aeroporto JFK até ser autorizado a embarcar.

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