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Iraniano culpa inimigos por desvalorização

Ahmadinejad responsabiliza Ocidente e rivais internos por crise no país; moeda caiu 40% em uma semana

Presidente faz apelo à população para que não troque o rial por moeda estrangeira e defende mais liberdades civis

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, culpou ontem inimigos externos pela vertiginosa desvalorização da moeda nacional, mas também responsabilizou facções rivais dentro do regime.

As declarações foram feitas em entrevista coletiva na qual o presidente, isolado e em fim de mandato, rebateu críticas de má gestão e atacou estruturas do Estado -o Parlamento, a mídia oficial e o policiamento islâmico.

Rompendo com o discurso oficial em vários temas, Ahmadinejad admitiu que a queda de 40% do rial em uma semana é resultado das últimas sanções americanas e europeias impostas ao Irã por seu programa nuclear.

"[Governos ocidentais] conseguiram reduzir nossas vendas de petróleo, mas, se Deus quiser, vamos recuperá-las", disse. Ele se referia ao embargo petroleiro que reduziu à metade as exportações de óleo bruto, maior provedor de divisas do regime.

Mas Ahmadinejad frisou que o maior revés para a economia nacional é a exclusão dos bancos iranianos do sistema financeiro mundial, que impede remessas de dólares.

Segundo o presidente, a República Islâmica é vítima de uma guerra econômica e psicológica por não se curvar aos interesses do Ocidente.

"Peço a você, caro povo, que não troque seu dinheiro por moeda estrangeira", disse o presidente, afirmando que a corrida às casas de câmbio beneficia o "inimigo".

Mas Ahmadinejad deixou claro que também culpa seus adversários internos pela queda da moeda que levou ontem ao fechamento das casas de câmbio.

O presidente criticou o grupo de pessoas que "conseguem manipular a cotação com apenas um telefonema".

Ele disse ainda que seus oponentes usam a emissora de TV estatal IRIB e a agência de notícias Fars, ligada à elite militar do regime, para disseminar boatos com o intuito de gerar flutuações da moeda e provar a suposta ineficiência do governo.

Um dos principais visados foi o presidente do Parlamento, Ali Larijani, que recentemente acusou Ahmadinejad de ser responsável por 80% dos problemas econômicos nacionais ao supostamente abusar de programas sociais e obras faraônicas.

"[Larijani] deveria pôr a mão na massa e ajudar em vez de dar entrevistas", disse Ahmadinejad, na reta final de seu segundo mandato e impedido por lei de concorrer à reeleição no pleito de junho.

"Quanto tudo vai bem, todo mundo quer crédito. Quando há problemas, só eu tenho culpa."

MAIS LIBERDADE

Na conversa de duas horas e meia com uma centena de jornalistas locais e estrangeiros, incluindo a Folha, Ahmadinejad defendeu maiores liberdades individuais.

Contrariando a ala mais extremista do regime, o presidente disse que cabe às mulheres decidirem como usar o véu islâmico.

Ele também criticou autoridades morais por prender seu assessor de imprensa e fechar um jornal sob pretexto de defender ideias ofensivas ao país.

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