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República da Catalunha

Independência da região mais rica da Espanha tiraria do país 18% do PIB; nacionalismo cresce

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI

"Imagine que a forte economia brasileira estivesse controlada por uma Argentina em crise, e que os recursos gerados fossem para Buenos Aires em vez de São Paulo."

Com a analogia, o separatista Enric Molina tenta explicar o recente espasmo nacionalista na Catalunha.

A reivindicação histórica da região mais próspera e também mais endividada da Espanha ganhou força inesperada no mês passado, assustando o governo central e mercados europeus.

Depois de milhares de catalães irem às ruas apoiados pelo governo local, o Parlamento da região aprovou consulta pública sobre o tema.

O anseio da Catalunha deve ficar patente amanhã, quando o Real Madrid vai à Catalunha enfrentar o Barcelona, cuja torcida promete entoar cânticos nacionalistas.

No resto da Espanha, analistas, políticos e até o rei Juan Carlos criticam a posição da região em um momento de crise que exige unidade.

Os governos regionais de Madri, Estremadura, La Rioja, Aragão, Castela-León e Ceuta lançaram iniciativa para fomentar uma união que catalães alegam ser falsa.

"A Catalunha não se encaixa mais na Espanha, as duas têm de criar uma situação forçada de estado pluralista para poder conviver", diz Molina, um dos fundadores da Assembleia Nacional da Catalunha, organização política formada no ano passado para fomentar e planejar a independência da região.

A criação da assembleia, que organizou uma espécie de caravana nacionalista, é uma das explicações dos analistas para o ressurgimento da onda separatista.

Ao longo do último ano, milhares de militantes percorreram praticamente todas as cidades e povoados da Catalunha. Em veículos cedidos por voluntários, transportavam catalães até Barcelona para sessões da assembleia.

O resultado foi um recorde de participação na manifestação do dia do orgulho catalão, em 11 de setembro.

No mesmo dia, o instituto de estatística catalão divulgou pesquisa apontando que 49% dos catalães apoiam a independência. "Hoje o independentismo deixou de ser visto como uma posição extremista daqui", acredita o engenheiro Jordi Vázquez.

O pontapé inicial da discussão pela independência neste ano foi a briga que Barcelona e Madri travam pela autonomia fiscal da Catalunha. A região quer arrecadar e gerir seus próprios tributos, ideia que já foi aprovada pelo Parlamento catalão em meados do ano, mas está embargada pela Justiça espanhola.

Isso despertou a ira catalã, já embalada pela crise e pelo sentimento histórico de que a região aporta mais recursos do que recebe de volta do Estado espanhol.

Segundo o instituto de estatísticas espanhol, a Catalunha é a região que mais contribui ao PIB (Produto Interno Bruto) do país, cerca de 18%, seguida de Madri e da Andaluzia. Seu PIB, de € 210 bilhões, é também o maior entre as regiões espanholas.

INDÚSTRIA

Mesmo com 60% da economia baseada em serviços, é uma das cinco regiões mais industrializadas da Europa.

Lá estão 60% das empresas dos Estados Unidos e da França com sede na Espanha, além das grandes montadoras, como Volkswagen, Nissan e Renault. Siemens, Sony e Microsoft também se firmaram na região.

Por outro lado, a Catalunha é a região mais endividada da Espanha, com um rombo que já soma € 41 bilhões e um deficit de 3,9%.

"Com uma eventual independência, a Catalunha terminaria fora da União Europeia, teria que criar moeda própria e não se sustentaria", afirma o economista Juan Mari Arturo.

Aos olhos da União Europeia, que observa de perto o movimento com um enviado especial à região, a Catalunha confia em receber uma espécie de indulto do bloco, embora não considere trivial permanecer nele.

"O direito internacional costuma favorecer as decisões menos prejudiciais, mas países como Noruega e Suécia não formam parte do euro e seu nível de bem-estar supera o de muitos membros", defende Enric Molina.

"Creio que depois da independência os catalães poderão dormir e acordar catalães plenamente, sem ter que se justificar a cada momento em que são diferentes num meio que não os aceita como diferentes", afirmou Rafael Molina, brasileiro morador de Barcelona.

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