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Pena de mordomo joga suspeita na Santa Sé

Punição branda e julgamento veloz do responsável por vazar papéis do papa alimentam hipótese de acordo oculto

Condenado anteontem a 18 meses de prisão, Paolo Gabriele teria assumido a culpa para não revelar cúmplices

PHILIP PULLELLA
DA REUTERS, NA CIDADE DO VATICANO

A condenação rápida do ex-mordomo do papa Bento 16 Paolo Gabriele -a 18 meses de prisão, por vazar documentos confidenciais- deixa no ar a desconfiança de que ele possa ter sido um joguete numa intriga muito maior no Vaticano.

O julgamento de Gabriele foi concluído anteontem com rapidez recorde, após apenas quatro audiências.

Ele cumprirá a pena em prisão domiciliar e espera receber o perdão do papa.

Os documentos que ele vazou constrangeram o Vaticano no momento em que ele se esforça para superar uma sequência de escândalos de abuso infantil envolvendo clérigos, além de erros na gestão de seu banco.

O ex-mordomo disse que agiu porque viu "o mal e a corrupção por toda parte na Igreja" e percebeu que informações estavam sendo ocultadas do papa. O jornal "Corriere della Sera" divulgou uma lista de dez perguntas que ficaram sem resposta no julgamento. A principal é se um homem simples como Gabriele agiu por conta própria.

Ele reconheceu ter sido influenciado por vários funcionários do Vaticano, incluindo um confessor a quem entregou cópias de documentos sigilosos. O confessor mais tarde destruiu as cópias.

O ex-mordomo disse ao tribunal que, graças à posição que ocupava, podia ver como era fácil para um homem com o poder do papa ser manipulado por outros, mas afirmou que os que o influenciaram não eram seus "cúmplices".

A identidade do padre confessor foi mantida em sigilo até o último dia do julgamento, sendo revelada apenas na súmula apresentada pela acusação. O padre não foi chamado a depor.

Gabriele começou a guardar documentos em 2006. Alguns questionam por que ele só os vazou este ano. Seria um espião plantado junto ao papa e aguardava ordens de altos funcionários do Vaticano?

Observadores do Vaticano duvidam que o mordomo tenha agido por conta própria, sugerindo que ele tenha sido forçado a arcar com a culpa para poder acobertar nomes maiores dentro da Santa Sé.

Alguns se indagam se ele fez acordo com o Vaticano - não divulgaria muito do que sabe em troca do perdão.

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