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Revigorado pelas urnas, Chávez quer acelerar 'socialismo'

Após vitória em 21 dos 23 Estados, venezuelano tende a investir em comunas, comparadas a comitês soviéticos

Figura inexistente na Constituição, comunas são novas unidades de administração reunindo conselhos de vizinhos

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

Reeleito presidente da Venezuela anteontem tendo vencido em 21 dos 23 Estados do país, além do Distrito Federal, Hugo Chávez usará o capital político para intensificar seu autodenominado projeto de "socialismo".

Deverá, por exemplo, acelerar a criação das comunas, "territórios de autogoverno" financiados com recursos diretos do Executivo.

É o que dizem analistas e governistas, entre os quais há consenso de que não haverá políticas para afugentar o investimento privado no setor petroleiro, motor da economia do país, nem maiores mudanças econômicas.

"Não queremos a eliminação das empresas capitalistas. Se estão prestando bem seus serviços e cumprem a lei, seguirão como estão. Nesse novo mandato, o foco será o setor produtivo", diz Ricardo Sanguino, governista presidente da Comissão de Finanças e Desenvolvimento Econômico do Parlamento.

Para Sanguino, a entrada da Venezuela no Mercosul -autorizada neste ano- pode ser a oportunidade para a reaproximação entre o Estado e as empresas privadas de capital venezuelano.

Chávez, que venceu até em Miranda, onde o candidato opositor Henrique Capriles era governador, fez ontem inusual aceno aos adversários. Telefonou para Capriles e comentou o gesto no Twitter. "Acreditem: tive uma amena conversa telefônica com Henrique Capriles! Faço um convite à unidade nacional, respeitando as diferenças", escreveu no microblog. Domingo, no discurso da vitória, ele agradeceu ao adversário por admitir a derrota.

Nem o tom menos triunfalista de seu discurso nem a ligação para o rival prognosticam, porém, moderação da agenda de Chávez, segundo o analista David Smilde.

"O presidente deve avançar em sua agenda de criação do 'Estado comunal' cujas leis já estão aprovadas", disse o professor, que acompanhou a votação na Venezuela.

As leis comunais foram aprovadas no fim de 2010 e ainda precisam ser regulamentadas. Propõem a criação formal de comunas, território conformado pela reunião de conselhos comunitários (conselhos de vizinhos) com eleição direta. Já há várias em formação no país.

Segundo a lei, uma comuna poderá ser conformada com áreas de municípios e até de Estados diferentes.

Terá Carta Comunal, Parlamento Comunal, suas empresas terão vantagens em licitação pública e podem ter moeda própria.

Neste mês, o Banco Central convocou uma licitação para a "moeda comunal".

A modalidade assusta até ex-simpatizantes do chavismo, como a socióloga Margarita López Maya, que a compara aos sovietes [conselhos políticos da extinta URSS].

Observadores próximos do governo, contudo, minimizam a grandiloquência das leis e dizem que as comunas terão escala marginal. Seria só outra ferramenta, ao lado dos programas sociais, de repasse direto de recursos e manutenção da base política.

INTERROGATÓRIO

O jornalista argentino Jorge Lanata relatou ontem ter sido detido e interrogado pelas autoridades venezuelanas, antes de deixar o país.

"Acusaram-nos [a ele e à sua equipe de TV] de estar fazendo espionagem. Revistaram exaustivamente os equipamentos. Agora nos liberaram, mas apagaram tudo o que havia em nossos computadores e celulares", disse Lanata, segundo depoimento publicado pelo "Clarín".

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