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Análise

Em política externa, Obama é o diabo que Pequim conhece mais e prefere

MINXIN PEI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para os americanos, a opção entre Barack Obama e Mitt Romney é inequívoca. O primeiro é defensor do legado do New Deal; o segundo está decidido a desmontá-lo.

Essa distinção é irrelevante para os líderes chineses. Filosoficamente, tendo desde o início dos anos 1990 destruído o pouco que a China tinha em matéria de rede de segurança social, eles talvez prefiram Romney. Mas, quando se trata de uma opção entre o titular da Casa Branca e seu rival, o que importa para Pequim é qual deles vai lhe causar menos dor de cabeça.

A julgar pelo discurso dos dois candidatos, Romney obviamente parece o pior.

Ele já ameaçou várias vezes punir a China por "trapacear" no comércio. Nas frases iniciais de seu primeiro (triunfal) debate com Obama, Romney citou "dar duro em cima da China" como uma de suas cinco abordagens à geração de empregos.

Além de sua retórica protecionista, Romney vai causar mais problemas para a China na área da segurança nacional. Uma pesquisa recente do Pew Research Center indica que a maioria dos republicanos vê a China como ameaça. Se Romney vencer, um número grande de neoconservadores "falcões" será nomeado no Pentágono e no Departamento de Estado.

A competição estratégica EUA-China se intensificará. Se Romney decidir ignorar os avisos da China e vender caças avançados F-16 a Taiwan, Pequim e Washington quase certamente se envolverão numa disputa realmente feia.

Quanto a Obama, os chineses já se desiludiram quase por completo. Embora ele tenha chegado à Presidência tentando criar um relacionamento novo com a China, nos últimos dois anos vem adotando uma política muito mais intransigente.

Obama impôs sanções comerciais ao país, embora, sensatamente, tenha evitado um confronto potencialmente desastroso em torno do valor da moeda chinesa.

Na área da segurança, Obama está dificultando bastante a vida do establishment militar chinês, embora ainda não ao extremo. Do ponto de vista de Pequim, o tão divulgado "redirecionamento" de Washington em direção à Ásia não passa de eufemismo para designar a contenção, já que envolve o reposicionamento das forças de combate mais letais dos EUA em torno da periferia da China e o reforço das relações diplomáticas e estratégicas com os vizinhos pouco amigáveis de Pequim, principalmente Japão, Índia e Vietnã.

Em suma, Obama é o que os chineses, em uma de suas frases mais pitorescas, chamariam de "tigre sorridente".

Assim, essencialmente, os chineses não enxergam diferenças fundamentais entre Obama e Romney. Mas isso não significa que eles não tenham uma preferência. Obama é o diabo que Pequim conhece mais -e prefere.

Tradução de CLARA ALLAIN

MINXIN PEI é professor de administração pública no Claremont McKenna College

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