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Eleições EUA

Salário baixo atrai montadoras ao Estado

Central sindical acusa empresas de ocupar metade do quadro de trabalho com temporários; ganhos não têm correção

Fábrica da Nissan no Mississippi é alvo de críticas; para empresa, 'comunicação direta' dispensa os sindicatos

DA ENVIADA AO MISSISSIPPI

Pobre, com salários muito abaixo da média nacional e uma mão de obra numerosa com poucas alternativas na região, o Mississippi atraiu na última década grandes montadoras transnacionais.

Agora, porém, a fábrica da japonesa Nissan em Canton, que emprega 3.900 pessoas e produz 450 mil veículos por ano, virou alvo da principal central sindical do setor, a United Auto Workers (UAW).

"A maioria das [montadoras] transnacionais tem metade do quadro de trabalho com temporários que estão no limbo, no purgatório econômico", disse à Folha Gary Casteel, diretor da UAW para o sul e sudeste dos EUA.

"Não sabem quanto tempo ficarão empregados nem podem planejar gastos maiores, como a compra de uma casa, o que alimenta a insegurança econômica [na região]."

Historiadores e economistas como Richard Freeman, da Universidade Harvard, ligam o declínio sindical nos EUA ao avanço da desigualdade no país, acelerado na crise econômica de 2008.

No recente "The Great Divergency" (a grande divergência), Timothy Noah escreve que a fatia de trabalhadores coberta pelos sindicatos foi de 40% nos anos 50 para 12% hoje -queda intensificada durante o governo de Ronald Reagan [1981-89].

Nos últimos anos, 23 dos 50 Estados criaram leis estimulando a não adesão.

Com isso, as agremiações passaram a visar o sul, de industrialização mais recente e história sindical exígua. Em muitos pontos, há um apelo direto ao hoje dormente movimento dos direitos civis.

"Empresas como a Nissan estudam o sul, sabem que há área ainda é muito rural, que as pessoas são mais dóceis do que em Detroit ou Nova York e que é um lugar antissindicatos", afirma Wayne Walker, técnico da montadora.

Operários ouvidos pela Folha se queixam de não ter correção salarial ante a inflação desde 2008 -o que a Nissan confirma, alegando que os salários ainda são competitivos.

"As pessoas pensam que o Mississippi é barato, mas o custo de vida aqui é maior que no Tennessee", diz o operário Rafael Martinez, 52. Seu colega James Brown, 44, lembra que no último aumento a gasolina custava US$ 2,40 o galão. "Hoje está US$ 3,60."

A montadora, comandada pelo brasileiro Carlos Ghosn, paga mais aos funcionários no Tennessee, e parte dos operários em Canton se ressente de que pese a questão racial (no Mississippi, 70% dos funcionários são negros, o inverso do Estado vizinho).

A empresa afirma não ver necessidade de sindicato por "apostar na comunicação direta com os funcionários". Diz ter feito estudos de campo que a põem em linha com as médias salariais estaduais.

A Nissan também admite a contratação de temporários, sem quantificar. "Isso nos dá flexibilidade para administrar a produção conforme demanda", afirma o porta-voz da montadora Travis Parman, acrescentando que as vagas são "duradouras".

(LUCIANA COELHO)

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