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Oposição vai às ruas e eleva tensão no Líbano

Após funeral de chefe da inteligência, morto em atentado, manifestantes tentam invadir sede do governo em Beirute

Opositores exigem a saída do premiê, que acusam de ser cúmplice da Síria, vista como autora do assassinato

Fotos Hussein Malla/Associated Press
Indignação: Manifestantes tentam se proteger de gás lacrimogêneo lançado pela polícia perto de sede do governo, que tentaram invadir
Indignação: Manifestantes tentam se proteger de gás lacrimogêneo lançado pela polícia perto de sede do governo, que tentaram invadir

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Sob os acordes da marcha fúnebre de Chopin e protestos contra o governo, milhares de pessoas acompanharam ontem em Beirute o funeral do chefe da inteligência libanesa Wissam al Hassan, assassinado por um carro-bomba na sexta-feira.

Simpatizantes da aliança opositora 14 de Março, à qual Al Hassan era ligado, partiram depois para a sede do governo, exigindo a renúncia do premiê, Najib Mikati, que acusam de acobertar o crime.

O protesto levou a confrontos com as forças de segurança, que deram tiros de alerta e dispararam gás lacrimogêneo contra um grupo de manifestantes que atirou pedras e tentou invadir o prédio.

A tentativa foi contida e os confrontos não foram adiante, mas o clima de tensão não se dissipou em Beirute.

"O país inteiro será fechado até que Mikati renuncie", disse à TV Al Jazeera o jovem ativista Ahmad Balaa, filiado à coalizão 14 de Março. "Vamos bloquear estradas e continuar os protestos."

Os EUA anunciaram que, em telefonema a Miqati ontem, a secretária de Estado Hillary Clinton ofereceu colaboração para investigar o atentado.

O assassinato de Al Hassan colocou a capital libanesa no mapa das tensões criadas pela guerra civil na Síria, que já havia gerado choques em outras partes do país entre defensores e opositores do ditador sírio, Bashar Assad.

A oposição libanesa acusou Assad de estar por trás do carro-bomba que matou Al Hassan e outras sete pessoas em Beirute, numa tentativa de exportar sua guerra para o volátil país vizinho.

O funeral virou a mais explícita manifestação já feita em Beirute em apoio aos rebeldes anti-Assad. Em meio a bandeiras libanesas no cortejo, tremularam também bandeiras da oposição síria.

O grito anti-Síria acabou se estendendo ao governo libanês e seu mais poderoso integrante, o grupo xiita Hizbollah, um dos principais aliados do regime Assad.

O funeral de Al Hassan foi realizado na monumental mesquita Al Amine, onde também está enterrado o premiê Rafiq Hariri, morto por um carro-bomba em 2005.

Crítico do regime sírio, Al Hassan não tinha simpatia do Hizbollah, depois de sua investigação acusar membros do grupo pela morte de Hariri. Diante da multidão reunida para o funeral, o ex-primeiro-ministro Fouad Siniora exigiu a renúncia do premiê.

"Não a um governo que acoberta crimes. Sim a um governo neutro de salvação", disse Siniora. Ele condenou, porém, os atos de violência.

Depois de colocar o cargo à disposição, o premiê Mikati disse que ficaria no cargo a pedido do presidente, Michael Suleiman, para evitar o risco de um vácuo de poder.

Cada escalada de tensão revive o temor de uma guerra civil como a que devastou o país entre 1975 e 1990.

Seguindo o sistema de divisão sectária do poder no Líbano, o premiê é sunita, o presidente é cristão e o presidente do Parlamento é xiita.

Mas a instável disputa política gera alianças que atravessam essas linhas. Mikati, sunita, está à frente de um governo dominado pelo xiita

Hizbollah, que tem também um bloco cristão.

A oposição liderada pelos sunitas tem cristãos maronitas e drusos, que trocaram de lado recentemente, prática comum na política local.

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