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Eleições EUA

Candidatos tentam parecer duros com China

País que mais compra títulos da dívida americana foi segundo mais citado em debate e é tema de propaganda eleitoral

Obama chama chineses de 'adversários', Romney critica 'manipulação'; chineses gostam do papel de 'protagonistas'

RAUL JUSTE LORES
DE NOVA YORK

A China foi o segundo país mais citado no debate sobre política externa entre Obama e Romney na segunda-feira -30 vezes, apenas atrás do Irã, mas acima de Israel, Síria e Líbia.

O presidente Obama chegou a chamar de "adversário" o país que mais compra títulos da dívida americana, financiando o deficit dos EUA.

Na semana passada, as propagandas dos dois candidatos no Estado de Ohio, um dos mais disputados entre os dois partidos, tinham a China como protagonista.

Vídeos de Romney diziam que Obama não era duro o suficiente e que o republicano declararia a China "manipuladora de moeda", abrindo espaço para medidas protecionistas.

Em visita ao Estado, Obama anunciou a última medida levada à Organização Mundial do Comércio -contra autopeças chinesas.

Em eleições anteriores, o opositor acusava o presidente de ser brando com a potência asiática. Desta vez, situação e oposição competem para ver quem é mais duro.

Diplomatas chineses ouvidos pela Folha dizem que, apesar da tensão nas campanhas, seja Obama ou Romney o eleito, a gritaria anti-China sempre se dissipa quando o novo presidente assume o cargo. Eles até se dizem "orgulhosos" pelo papel protagonista da China no debate.

Mas realçam que a percepção dos chineses sobre os EUA também piorou nos últimos anos. A desconfiança não é só americana.

Na pesquisa Pew Global divulgada na semana passada, a relação com os EUA era vista como "cooperação" por 39% dos chineses, contra 68%, em 2008.

Economicamente, a relação já virou casamento. A China é a maior detentora de títulos da dívida americana e praticamente sustenta o deficit crescente dos EUA ao comprar títulos. E o comércio entre os dois foi de US$ 544 bilhões no ano passado (R$ 1,088 tri).

Para Kenneth Lieberthal, diretor do Centro de Estudos da China da Brookings Institution, os conflitos de interesse estão ficando mais importantes e as áreas de cooperação, encolhendo.

"Há desconfiança estratégica a longo prazo. Nos últimos 30 anos, não conseguimos persuadir um ao outro das boas intenções no futuro."

Ambos os países vivem momentos de transição de liderança, com eleições nos EUA e mudanças na direção do Partido Comunista chinês.

E a lista de conflitos cresce. Para os chineses, são a venda de armas para Taiwan, as críticas ao desrespeito de direitos humanos nas províncias separatistas Tibete e Xinjiang e a presença dos EUA na vizinhança, especialmente naval.

Para os americanos, além das disputas de moeda e comerciais, há tensão quanto à propriedade intelectual e a ataques cibernéticos de hackers chineses que, segundo muitos americanos, trabalhariam para o governo.

Desconfianças se multiplicam. O ex-embaixador americano na China, Jon Huntsman, enviado por Obama, teve seu visto negado no mês passado quando iria dar uma palestra na China. "Falo muito de direitos humanos e valores americanos, eles sabem disso", declarou Huntsman.

Mas o especialista Lieberthal diz que as duas potências ainda conversam bem. "Me surpreende que, dadas as enormes diferenças de cultura e de visão de mundo, haja conflito de menos, não de mais, entre os dois."

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