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Eleições EUA

QG obamista tem ritmo frenético na reta final

Folha visita o centro da campanha do presidente americano, em Chicago, onde 400 trabalham pela reeleição

Clima é de segredo total em prédio no centro da cidade; voluntários se concentram em motivar eleitores a ir votar

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A CHICAGO

Das janelas do escritório, vê-se o parque Grant, onde Barack Obama fez história ao discursar pela primeira vez como presidente eleito dos EUA há quase quatro anos. Dentro, espalhadas por 4.600 metros quadrados, cerca de 400 pessoas trabalham freneticamente para que o momento se repita.

De vez em quando, param para jogar pingue-pongue.

Estamos no cérebro da campanha obamista, instalado em enorme prédio comercial no centro de Chicago. São 18h de uma quinta-feira já escura e inesperadamente gelada, mas a equipe movida a fé e café não arrefece. Falta, afinal, pouco mais de uma semana para a eleição.

Em uma das dezenas de saletas que contornam o andar -o miolo é um grande vão tomado por baias repletas de slogans e bandeiras de Estados, universidades e times esportivos que pendem do teto- vê-se uma placa do Estado de Illinois usada na convenção partidária.

O dono da saleta é David Axelrod, o principal estrategista da campanha, e ela está vazia. O pai da inovadora máquina eleitoral que levou o democrata à Casa Branca conversa seriamente, algumas salas adiante, com Stephanie Cutter, vice-diretora e principal porta-voz da campanha. Apesar da reunião, a porta está escancarada.

Duas horas antes, o presidente estivera na cidade para votar. A campanha calcula que, se estimular o voto antecipado, ficará menos sujeita ao desânimo ante o avanço do republicano Mitt Romney nas pesquisas -nos EUA, votar não é obrigatório.

"Ainda bem que ele não veio hoje", diz o jovem assessor que guia a reportagem da Folha entre baias e salas identificadas por nomes de Estados. "Amamos o presidente. Mas, com toda a vistoria de segurança necessária, perderíamos meio dia de trabalho. A esta altura, não dá."

Um policial solitário na entrada guarda todo o andar. Para visitar o escritório, a reportagem foi proibida de revelar seu endereço exato, abordar funcionários e dar o nome do cicerone. Doze dias antes, um comitê de Obama em Denver sofrera ataque a tiros enquanto estava vazio.

Quem entra precisa deixar um documento e ser escoltado por um integrante da campanha. Na recepção, entre frases motivacionais e um pôster em que Obama e seu vice, Joe Biden, pedem mais quatro anos, um enorme cronômetro conta dias, horas, minutos e segundos para a votação do próximo dia 6.

Mas o que pulula dentro da estrutura é o "departamento dos Estados", no centro do escritório. Dali, às vezes sentados em bolas infláveis usadas em ioga, jovens recém-saídos de universidades de ponta coordenam por e-mail e telefone a extensa estrutura de campo da campanha.

"Estamos em todos os 50 Estados, até no Alasca", alardeia o guia. Só nos nove considerados decisivos nesta disputa, há 596 comitês.

No auge, o QG chegou a abrigar 700 pessoas, entre funcionários, estagiários e voluntários (estes, uma massa mais heterogênea, encarregada apenas de ligar para eleitores convidando-os a votar ou doar). Agora a estrutura se pulveriza; parte dela foi para os esforços de campo.

MENSAGEM CONTROLADA

O departamento "digital", porém, continua cheio, incumbido de cuidar da imensa estrutura virtual. Dali saem e-mails personalizados para eleitores de cada Estado; mensagens assinadas por dirigentes do comitê, políticos e celebridades; vídeos virais; posts de blogs; mensagens no Twitter, no Facebook e em quase toda rede social.

Metros adiante, o agendamento coordena comícios e festas para arrecadar fundos. Ao lado, pendurado ao telefone, fica o time que cuida das declarações e aparições dos "surrogates" - cabos eleitorais peso-pesado, de Bill Clinton a Beyoncé.

Além do pessoal da campanha em si, há uma enxuta estrutura de "firma", com recursos humanos, jurídico, financeiro e até um departamento que checa se nenhuma lei, regra ou propriedade intelectual foi infringida.

Escondida no fundo, silenciosa, a equipe de imprensa trabalha nas dezenas de comunicados diários com os quais tenta dominar ao máximo o ciclo noticioso.

Na bancada do orçamento, os cartazes só não são mais orgulhosos do que os da turma do design, que pariu a indefectível identidade visual obamista -"aí as coisas acontecem", brinca o guia. Neste mês, bateu-se a marca do US$ 1 bilhão (R$ 2,02 bilhões) arrecadado.

O endereço mais vistoso do que o de 2008 foi adotado em março de 2011. Mas o dinheiro é dosado. As salas são pequenas, e muitos dos cartazes que forram as paredes são artesanais. Monitores de TV são raros (ao contrário das cafeteiras). Supérfluo, só um castelo cor-de-rosa de papel esquecido num canto.

Após cinco anos de crise e com pesquisas empatadas, o ânimo da última eleição, quando Obama tinha quase oito pontos de vantagem e prometia soluções transformadoras, deu lugar ao instinto de sobrevivência. Mas o moral segue alto no QG.

"Estamos exatamente onde sabíamos que estaríamos neste momento", diz o guia, referindo-se à ligeira vantagem de Obama nos Estados-chave.

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