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Programa nuclear iraniano é muito lento, afirma historiador

MARCELO NINIO, DE JERUSALÉM

"Posso apostar que não haverá um ataque israelense ao Irã no futuro próximo. Se eu estiver errado, pago a aposta no inferno", diz Martin van Creveld, um dos mais respeitados historiadores militares contemporâneos.

Humor negro à parte, a opinião é compartilhada pela maioria dos especialistas, mas foi afogada pela nova onda de especulações em torno de uma ação militar de Israel contra as instalações nucleares iranianas.

Para o historiador, não ocorreu nada de novo nos últimos meses que justifique a preocupação apocalíptica demonstrada por Israel.

"O programa nuclear iraniano é o mais lento da história", afirma. "Eles ainda não têm capacidade e provavelmente nem o desejo de construir uma bomba atômica em um futuro próximo".

Professor da Universidade de Jerusalém e autor de 17 livros sobre história e estratégia militares, Van Creveld está convicto de que o discurso contra o Irã é mais uma jogada política do premiê israelense, Binyamin Netanyahu.

O discurso não é novo. O governo de Israel repete há anos que vê na hipótese de uma bomba atômica iraniana um perigo existencial e poucos no país discordam.

A novidade é que na última semana o debate tornou-se público pela primeira vez, após reportagem do jornal de maior circulação do país, "Yediot Ahronot".

Assinado por Nahum Barnea, o repórter mais respeitado de Israel, o texto afirma que Netanyahu e o ministro da Defesa, Ehud Barak, estão forçando a barra para acelerar um ataque, apesar da oposição de todos os comandantes militares e chefes dos serviços de inteligência.

O governo reagiu com irritação, culpando a imprensa de irresponsabilidade ao expor publicamente o assunto.

Ao mesmo tempo, ajudou a manter o assunto nas manchetes, num jogo de ambiguidade que lembra a política de não negar nem confirmar que Israel possui armas atômicas -fato amplamente aceito.

Ao longo da semana, o debate foi alimentado por declarações de Netanyahu e Barak sobre o perigo iraniano, pelo teste de um novo míssil de longo alcance e por exercícios aéreos na Itália, que simularam uma operação num alvo distante.

Não seria a primeira vez que Israel usa seus caças contra a ambição nuclear de um vizinho hostil. Isso ocorreu em 1981, no bombardeio ao reator iraquiano de Osirak, e em 2007, quando Israel destruiu o reator sírio.

As diferenças em relação ao Irã, porém, são muitas. A começar pela complexidade de atacar um programa nuclear mais distante e que foi espalhado pelo país persa em instalações subterrâneas.

Outra diferença é que nos ataques no Iraque e na Síria o debate público surgiu depois, não antes do ataque.

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