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Entrevista - Richard Layard

Governos precisam ter deficit para tirar economia da crise

PROFESSOR BRITÂNICO DIZ QUE RECEITUÁRIO DE CORTES DE GASTOS E AUMENTO DE IMPOSTOS SÓ VAI PROLONGAR A RECESSÃO NA ZONA DO EURO

DENISE MENCHEN DO RIO

Para o britânico Richard Layard, 78, da London School of Economics, o receituário que prega corte de gastos governamentais e aumento de impostos para reduzir o deficit público de países como Espanha e Itália terá como resultado o prolongamento da recessão na Europa.

Autor do "Manifesto pela Razão Econômica" ao lado do vencedor do Nobel de Economia Paul Krugman, lorde Layard afirma que a origem da crise atual é o alto endividamento do setor privado, e não do setor público, e defende que o BCE (Banco Central Europeu) financie os países em situação complicada.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida por telefone à Folha.

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Folha - Por que o senhor e Paul Krugman decidiram lançar o "Manifesto pela Razão Econômica"?
Richard Layard - As políticas de austeridade pregam que cortes nos gastos do governo e aumento de impostos podem levar à recuperação da economia ao aumentar a confiança das pessoas no futuro do país.
Mas as evidências mostram justamente o contrário: que, quando se corta o gasto do governo e se aumentam os impostos, na verdade o que ocorre é uma queda na confiança e um atraso na recuperação, que pode tornar ainda mais difícil reduzir o deficit.
O pior resultado disso é o desemprego, e na nossa visão é completamente errado sacrificar o emprego e a vida das pessoas por causa de uma alegação um tanto incerta de que dessa maneira seria possível reduzir o deficit com mais rapidez.

No manifesto, vocês argumentam que o diagnóstico das causas da crise está errado, e que, por isso, a resposta também está errada...
Sim, porque a crise não foi causada por Orçamentos públicos irresponsáveis.
Até 2008, a maioria dos países tinha Orçamentos responsáveis, especialmente países como Espanha e Itália, que agora estão na linha de fogo. A verdade é que a crise foi causada pela irresponsabilidade do setor privado na concessão e tomada de empréstimos.
Isso se provou insustentável, e com isso tivemos o colapso bancário. Esse colapso bancário levou à recessão, e a recessão produziu o deficit público. Ele é uma consequência da crise, não sua causa.

E o que levou a esse endividamento excessivo do setor privado?
Foi uma mistura de regulação fraca, especialmente do sistema bancário, e a adoção de práticas pouco inteligentes por bancos que assumiram riscos injustificados.
Pode-se até dizer que os riscos não foram injustificados para os bancos, porque eles sabiam que os governos os socorreriam caso tivessem problemas, mas certamente foram injustificados quando se pensa nas consequências que a população tem sofrido.

Os governos continuam insistindo em cortes de gastos para os Orçamentos de 2013. Que tipo de consequências o senhor acha que isso terá?
Isso só pode prolongar a recessão. O setor privado não está gastando, as empresas não estão investindo e as famílias estão economizando para reduzir suas dívidas.
São ações em grande parte necessárias, mas isso causa um aumento tremendo do desemprego, a não ser que o poder público atue para preencher o vazio.
O governo precisa estar disposto a incorrer em deficit para estimular a economia, mas o que está fazendo é colocar a redução do deficit como principal prioridade.
E a situação tende a piorar, porque, em muitos países, como o meu mesmo, os cortes estão apenas começando.

Mas, sem o esforço para reduzir o deficit, esses países conseguiriam rolar suas dívidas? Com a crise mundial, os juros exigidos pelos investidores para comprar títulos espanhóis passaram de 4% para quase 8%...
Se olharmos para o mundo, veremos que nos principais países onde há um banco central independente dando suporte ao governo as taxas de juros estão baixas de uma forma sem precedentes.
Parece incrivelmente fácil rolar esses deficit -até mesmo no Japão, onde a dívida pública já representa mais de 200% do PIB.
O problema das altas taxas de juros é um problema fundamentalmente dos países do euro.
Isso ocorre porque o Banco Central Europeu não está autorizado a operar da mesma forma que os bancos centrais dos Estados Unidos, do Reino Unido ou do Japão, que nunca permitirão que seus governos fiquem inadimplentes, financiando sempre o deficit com a compra de títulos soberanos.
É por isso que os investidores sabem que seu dinheiro estará seguro se o emprestarem para esses governos.
Mas eles não sabem se ele estará seguro se o emprestarem para a Itália ou para a Espanha.

Recentemente, o Banco Central Europeu anunciou que vai comprar bônus dos países em crise no mercado secundário, desde que eles peçam ajuda ao fundo de socorro europeu antes. Não é um passo nessa direção?
É um avanço enorme, mas eu ainda acho que as condições são muito rígidas.
Muitas são quase impossíveis de serem cumpridas, mas, se eles não as cumprirem, o BCE diz que não vai comprar seus títulos de dívida. Portanto, é um endosso muito fraco aos bônus desses países.


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