Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Entrevista Damaskino Mansour

A 'Primavera Árabe' deveria ser chamada de 'destruição árabe'

Arcebispo da Igreja Ortodoxa Síria no Brasil diz que é um erro o apoio estrangeiro aos grupos de oposição armados no país árabe

MIKEL AYESTARAN COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM DAMASCO

A comunidade cristã da Síria, cerca de 10% da população do país, se mostra preocupada com a guerra civil no país árabe.

Um de seus principais líderes, o arcebispo do Brasil, Damaskino Mansour, esteve em Damasco na semana passada após a morte do patriarca da comunidade, Inácio 4º.

Nascido em Damasco há 63 anos e morador de São Paulo desde 1992, Mansour chegou a ser um dos mais cotados como sucessor.

Na Síria, a comunidade cristã sempre teve uma boa convivência com o regime de Bashar Assad, mas há o temor, atualmente, de que sua substituição por um governo permeado por radicais islâmicos resulte em mais perseguição religiosa.

Enquanto conversava com a Folha no escritório da catedral de Santa Maria, os bombardeios eram constantemente audíveis nos bairros adjacentes à Cidade Velha da capital síria.

"Cada explosão me dói na alma", confessa o líder religioso, que sonha com o fim da violência e que evita se pronunciar sobre temas políticos devido ao momento delicado que as autoridades da Síria vivem.

-

Folha - Como está Damasco?

Damaskino Mansour - Desde que cheguei, não tive problema algum, mas é perceptível que a situação está muito instável.

Nossa esperança é que o mal tenha limites e que a bondade acabe por vencer esta batalha. Não perdemos a esperança.

Desde o início da revolta contra Bashar Assad, a Igreja vem se mantendo neutra. Como o senhor vê a situação depois de 21 meses de instabilidade na Síria?

Sabemos que a causa principal do problema do país é a ingerência estrangeira, e creio que esse seja um grande erro da parte dos países que apoiam a oposição armada.

Os combatentes que vêm de outros países matam em nome de Deus, mas seu Deus é um Deus da morte, e não da vida.

Qual será o maior desafio para o próximo Patriarca?

Enfrentar a nova situação do Oriente Médio; as coisas mudaram demais em um período muito curto.

Em que posição ficam os cristãos depois da chamada Primavera Árabe em países como a Tunísia, Líbia, Egito e Síria?

Isso a que a imprensa internacional denomina "Primavera Árabe", em minha opinião, deveria começar a ser chamado, claramente, de "destruição árabe".

A primavera é uma estação do ano que traz vida, mas o que vemos ao nosso redor é morte e destruição.

Quanto aos cristãos, embora sejamos minoria nessas sociedades, historicamente desempenhamos papel essencial em países como a Síria e sofremos como os demais cidadãos.

Não se pode fazer distinções em um momento de dor para todos.

O exemplo do vizinho Iraque, onde ocorreu um êxodo maciço de cristãos, ainda é bastante recente. Será que a comunidade não se sente especialmente perseguida? Não se vê como alvo de grupos extremistas?

Tudo o que está acontecendo me traz à lembrança a experiência iraquiana, mas, como já disse, o sofrimento é de todo o povo, e não exclusivo dos cristãos. Não podemos nos diferenciar em sociedades das quais somos apenas mais uma parte, como qualquer das demais religiões.

Convivemos há milhares de anos, e todos sofremos essa pressão que vem de fora, de terroristas sem coração que chegam à Síria apenas para matar.

Aqueles que matam não distinguem os cristãos dos demais, matam os habitantes da Síria, matam sírios.

O senhor chegou a Damasco há poucos dias. Já se acostumou ao barulho das explosões?

Ninguém se acostuma a isso, e elas me causam muita dor. Antes havia paz e segurança aqui, e agora estamos em uma situação difícil.

Tenho de confessar que isso me causa medo, mas esperamos que não seja tarde demais para uma solução.

Como sua comunidade no Brasil acompanha os acontecimentos aqui?

Os ortodoxos formam uma comunidade importante no Brasil.

Temos 150 anos de tradição, e nossa história no Brasil começou devido à forte emigração de todo o Oriente Médio para lá no século 19.

Hoje, a maioria dos emigrantes tem parentes em Damasco e, especialmente, em Aleppo e em Homs.

Para eles, é um sofrimento diário, porque as notícias não param de surgir e eles veem como as coisas estão. É uma grande pena para todos.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página