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Alexandre Vidal Porto

A questão palestina de Edward Said

Escritor analisa os preconceitos contra o islã e a relação dos palestinos com o Ocidente liberal

EM 1990, no Brasil, só uma universidade oferecia graduação em relações internacionais. Hoje, esse mesmo curso é oferecido por mais de cem instituições de ensino superior.

No vestibular da Fuvest de 2013, por exemplo, a carreira de relações internacionais foi mais procurada que as de direito, economia, jornalismo ou arquitetura.

O número de internacionalistas brasileiros só faz crescer. De olho nesse mercado, a editora da Unesp decidiu publicar, pela primeira vez no Brasil, "A Questão da Palestina", de Edward Said, em tradução de Sandra Midori. A obra é fundamental para o entendimento equilibrado do conflito palestino-israelense.

Trata-se de livro compacto (307 páginas), com documentação abundante, que analisa, do ponto de vista palestino, as raízes e os desdobramentos da questão palestino-israelense. A proposta é apresentar o que o autor chamaria de "relato da vítima". Nele, deixa registro histórico e assume a função de porta-voz de seu povo.

Edward Said nasceu em Jerusalém, viveu no Cairo e, além de palestino, possuía nacionalidade norte-americana. Tinha amplo acesso aos círculos intelectuais judaicos dos EUA. Formou-se em Princeton e Harvard. Ensinou em Stanford e Yale e aposentou-se como catedrático da Universidade de Columbia.

Em "A Questão da Palestina", analisa o estabelecimento do Estado de Israel contra o pano de fundo do colonialismo europeu. Fala dos preconceitos ocidentais contra o islã. Avalia a relação dos palestinos com o Ocidente liberal. Expõe as consequências da dispersão e da privação de direitos civis.

Ao dar-lhe voz, Said reafirma a existência e a humanidade do povo palestino. Identifica também a consolidação de uma consciência nacional palestina. A partir daí, vislumbra possibilidades para a auto-determinação de seu povo, cuja resistência chama de "obstinada".

O conflito palestino é a grande questão não resolvida do século 20. Sobreviveu ao fim da Guerra Fria e à dissolução da União Soviética. Tornou-se parte da paisagem histórica perene dos que nasceram a partir da década de 60. Como recorda o professor Salem Nasser, da FGV, "aquela mesma questão da Palestina não apenas ficou sem solução, mas pareceu afastar-se consistenmente de qualquer desfecho justo".

A questão se manteve relevante porque é incontornável. Tornou-se foco de atrito permanente e justificativa para a disseminação de ideologias destrutivas. O livro de Said contribui para seu equacionamento e vale pelo que é: um depoimento nacional e uma profissão de fé na coexistência pacífica entre dois povos. Por isso permanece como um dos fundamentos teóricos para a vitalidade dessa alternativa.

Concorde-se ou não com ele, Said oferece uma visão básica, oriental, do pensamento palestino, que servirá como elemento construtivo no exercício de negociação que um futuro acordo de paz entre Israel e Palestina demandará. Porque, enfim, os maias estavam errados. O mundo não acabou. As coisas seguem iguais. Palestinos e israelenses têm um acordo de paz para assinar.


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