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Habermas defende mais integração europeia e critica governos do bloco

Filósofo alemão afirma que debacle inspira força da extrema direita

VICTÓRIA ÁLVARES

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

Diante da crise econômica que assola a Europa, o filósofo alemão Jürgen Habermas afirmou na última quinta-feira que os problemas da UE (União Europeia) partem da falta de interação entre os cidadãos e a comunidade, relançando o debate sobre Europa e democracia.

"O cidadão deve, simultaneamente e com a mesma implicação, julgar e decidir politicamente como cidadão da União Europeia e como membro de um Estado nacional", afirmou Habermas durante uma conferência na Universidade Paris Descartes.

Entretanto, essa identidade comunitária é cada vez menor entre os europeus. O índice de abstenção nas últimas eleições para o Parlamento da UE em 2009, por exemplo, ficou em 56,99%.

Para combater essa tendência, Habermas defende a democratização da Europa pela inserção dos cidadãos nos debates políticos e econômicos.

"Quanto mais o indivíduo perceber como as decisões da UE influem na vida cotidiana, maior vai ser seu interesse em utilizar os direitos enquanto cidadão da comunidade, e mais ele vai estar atento ao que os chefes de governos negociam ou decidem", afirmou. Os atuais problemas europeus -crise econômica, alto índice de desemprego, descrença nas forças políticas, insatisfação generalizada- são fatores que propiciam terreno fértil para a extrema direita e estimulam a crescente rejeição ao projeto comum europeu. Para Habermas, só o populismo de direita, que começa a ganhar mais adeptos no velho continente, continua a projetar a caricatura das grandes questões nacionais e poderá bloquear qualquer formação para além das fronteiras.

Mas o filósofo foi categórico quando lembrou que "após 50 anos de imigração por trabalho, os povos europeus, diante de um crescente pluralismo étnico, linguístico e religioso, não podem mais ser imaginados como unidades culturais homogêneas".

Além disso, a forma como os dirigentes europeus trataram a crise do euro, com manobras dilatórias e sem solidariedade espontânea, pode ter contribuído com a rejeição crescente do projeto europeu, segundo o filósofo.

SOLIDARIEDADE

O alemão criticou abertamente o próprio país, afirmando que o governo da chanceler (premiê) Angela Merkel tornou-se "acelerador de uma 'dessolidarização' que atingiu a Europa".

Para o também filósofo Jean-Marc Ferry, presente na conferência, a Alemanha deveria iniciar um esquema de solidariedade internacional.

"Por uma década os Estados do sul da Europa estimularam a economia alemã e permitiram que o país alcançasse a posição econômica confortável em que se encontra hoje. Agora, a Alemanha deve retribuir."

Ferry criticou a fragilidade das instituições da UE, como a Comissão Europeia, que seria apenas burocrática, e não política. "Enquanto isso, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy são os que governam a comunidade europeia."

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