Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Renúncia põe fim a carreira improvável

Nenhum italiano desde Mussolini deixou impressão tão duradoura quanto o ex-primeiro-ministro Berlusconi

Ele prometeu milagre econômico e terminou derrubado do poder por não ter conseguido fazer a Itália crescer

JOHN HOOPER
DO “GUARDIAN”, EM ROMA

A renúncia de Silvio Berlusconi muito provavelmente encerrou a carreira política mais bombástica, agitada, improvável e destrutiva na história recente da Itália.

Nenhum italiano desde Mussolini deixou uma impressão tão duradoura sobre seu país. E nenhum outro desde então fez tanto para prejudicar as perspectivas da Itália e sua posição mundial.

Berlusconi prometeu fazer seus compatriotas enriquecer. Vendo quão rico ele próprio se tornara, muitos acreditaram que ele daria conta.

Desde o início, Berlusconi foi mais que meramente uma figura singular no cenário político. Ele pode considerar-se responsável por ter inventado uma maneira totalmente nova de interação política.

Seu primeiro partido, o Forza Italia, foi criado em poucos meses, usando os recursos e as técnicas da era da mídia. Os primeiros funcionários foram executivos do ramo publicitário do império de mídia de Berlusconi

O Forza Italia, que se tornaria o maior movimento político da Itália, era profundamente não democrático. Berlusconi ou seus lugares-

tenentes decidiam quem deveria ocupar quais cargos.

Dois meses depois de mostrar a que viera, Berlusconi teve uma vitória arrasadora na eleição geral de 1994.

Apesar de apresentar-se como defensor do livre mercado e descrever-se como um "liberale", Berlusconi nunca fez mais do que prometer

promover a competição.

Seu primeiro governo durou menos de um ano. Foi derrubado pela retirada do partido Liga do Norte, cada vez menos à vontade com um primeiro-ministro cujos problemas legais se avolumavam a cada dia que passava.

MÍDIA

É fato que seu domínio da televisão -reforçado quando ele estava no poder, de modo a incluir todos menos dois dos sete canais nacionais principais- ajudara a criar um ambiente em que ele pôde se fortalecer e sobreviver.

Se os italianos não puderam compreender a seriedade dos delitos financeiros dos quais Berlusconi foi acusado; se não se preocuparam com seu sexismo anacrônico e se, mais recentemente, não compreenderam o grau de desprezo em que Berlusconi era tido fora da Itália, isso foi em grande medida devido ao que era dito nas suas telinhas.

O segundo e terceiro governos de Berlusconi serão lembrados sobretudo pelos choques intermináveis com a oposição em torno de projetos de lei que, segundo seus críticos, foram redigidos para proteger ou promover os interesses de Berlusconi.

Em 2006, a credibilidade de Berlusconi já estava arrasada. É um tributo à sua habilidade política o fato de ter perdido a eleição geral desse ano por margem estreita. Mas o fato de Berlusconi ter voltado ao poder em 2008 se deve à capacidade da centro-esquerda de se autodestruir com suas disputas internas.

Seu último governo começou de modo confiante, mas foi dominado por escândalos.

Começando em 2009, com a descoberta de sua ligação ainda inexplicada com uma moça de 18 anos, Berlusconi foi pouco a pouco arrastado para um atoleiro de sua própria responsabilidade, à medida que se faziam mais acusações sobre quase orgias promovidas em suas casas.

Em abril de 2011, sua posição aos olhos do mundo caiu ainda mais quando ele foi julgado, acusado de pagar uma prostituta menor de idade.

Seus números nas pesquisas de opinião resistiram surpreendentemente bem.

A reação hesitante do governo quando a Itália foi contagiada pela crise da zona do euro, em meados deste ano, reforçou a crença crescente de que Berlusconi não sabia como reagir a uma emergência macroeconômica.

Era a ironia máxima: o homem que sempre fez questão de levar seus compatriotas a acreditar que poderia fazer um "novo milagre econômico", que foi eleito em função de seu toque de Midas, foi derrubado, finalmente, por não ter conseguido fazer a economia italiana crescer.

Tradução de CLARA ALLAIN

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.