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Protesto barra exibição de filme de dissidente

Tumulto leva a cancelamento de sessão de documentário com blogueira cubana Yoani Sánchez, em Feira de Santana

Ela chegou ontem ao Brasil após receber autorização para sair de Cuba; manifestantes são ligados a partidos

DA ENVIADA ESPECIAL À BAHIA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SALVADOR E EM RECIFE

Uma barulhenta manifestação de cerca de 50 militantes ligados a movimentos estudantis e sociais, PC do B e PT levou ontem ao cancelamento da exibição de um filme com a presença da blogueira dissidente cubana Yoani Sánchez, em Feira de Santana (BA).

Aos gritos de "traidora" e "Cuba sim, ianques não", os militantes tomaram o salão da Casa do Saber, um planetário cedido pela prefeitura para a apresentação de "Conexão Cuba-Honduras", do cineasta baiano Dado Galvão.

O documentário tem como uma das protagonistas a ativista, que chegou ontem ao Brasil após obter uma rara autorização do governo cubano para sair do país.

Quando Sánchez chegou, os ânimos se exaltaram e a blogueira chegou a ser recolhida na sala da diretoria, enquanto o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) tentava conversar com os manifestantes.

Com chapéu com estrela de Che Guevara, o ex-vereador do PT Angelo Almeida negociou a mudança do evento para um debate com militantes.

Quase uma hora depois, a dissidente começou a falar, de pé, por 15 minutos: "Vivo numa sociedade onde opinião é traição". Vaias tomaram novamente o ambiente.

"Protesto faz parte da democracia, agressividade não", disse Galvão. Líderes do protesto prometeram repetir as manifestações hoje, quando Sánchez participará de debate em uma universidade de Feira de Santana.

JORNADA TUMULTUADA

A exibição frustrada foi o auge de uma jornada já tumultuada por protestos, que começaram na primeira escala de Sánchez, 37, no Brasil.

É sua primeira viagem ao exterior depois de 20 tentativas frustradas de deixar Cuba.

Em Recife, onde desembarcou ontem de madrugada, um punhado de manifestantes atirou notas falsas de dólar.

No aeroporto de Salvador, um grupo pequeno, mas intimidador, obrigou, aos gritos, a blogueira a deixar o local por uma saída alternativa.

"Um protesto assim contra um convidado do governo cubano não duraria mais que dois minutos", ironizou Sánchez, que disse ver os chamados "atos de repúdio" contra dissidentes desde os 5 anos.

No aeroporto de Salvador, Caio Botelho, 25, diretor da União da Juventude Socialista, ligada ao PC do B, disse que o ato visava desmascarar a ativista, "paga pela CIA".

"Falar é se meter em problemas. Prefiro o risco da opinião à apatia e à segurança de ficar em silêncio", disse Sánchez na van que a levou de Salvador a Feira de Santana. "Se tivesse me calado, não teria feito o blog e não teria vindo ao Brasil nesta viagem louca".

A tenacidade da mídia local e internacional em cobrir seus passos ratificava o status de celebridade política da ativista, quase seis anos após criar o blog "Generación Y".

"Tive que aprender a viver vigiada", diz a dissidente. Ela guarda algum entusiasmo para falar da sociedade civil de Cuba, mas admite que o movimento está longe de ter força: Fidel Castro, 86, é "a sombra do que foi", mas Raúl Castro, 81, segue firme no poder. Contra ele, só a biologia.

"Eu preferiria que a própria pressão da cidadania pudesse mudar o sistema. Pelo modo como reage a maioria dos cubanos, com apatia, a solução biológica é a que se desenha como mais possível."


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