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Entrevista - Geraldo Majella Agnelo

Burocracia da igreja ficou pesada e tem muita gordura para queimar

ARCEBISPO EMÉRITO DE SALVADOR, QUE PARTICIPARÁ DE CONCLAVE PARA ESCOLHER PAPA, PEDE 'EXAME DE CONSCIÊNCIA' A CARDEAIS

CLÓVIS ROSSI ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador (BA), desembarca na segunda em Roma com a preocupação de votar em um papa que seja capaz de reformar a Cúria Romana, que "se tornou volumosa demais".

Dom Geraldo não diz, mas há unanimidade entre os vaticanistas em apontar as dificuldades de Bento 16 com a Cúria como um dos elementos que pesaram na sua decisão de renunciar ao papado.

O arcebispo, que fará 80 anos em outubro, participa do seu segundo conclave -dom Cláudio Hummes é o outro brasileiro nessa situação.

Ele pede também um "exame de consciência" de todos os religiosos, tal como Bento 16 disse ter feito antes de decidir pela renúncia. O pedido foi uma maneira elíptica de responder a uma pergunta sobre as divisões na igreja.

Eis o teor da conversa, mantida por telefone:

Folha - O sr. já decidiu o voto?
Dom Geraldo Majella - Decidido, não digo. Mas não tenho muitas dúvidas, não.

Não vou perguntar o nome porque o sr. não me diria. Mas pode me dizer qual é o perfil de papa que o sr. prefere?
O primeiro dever de um papa é que exerça a missão de ser o pastor dos pastores. Logo, gostaria de um papa que seja capaz de exercer essa missão.
Em segundo, que seja capaz de administrar os canais por meio dos quais exerce o ministério na igreja. A Cúria Romana, os dicastérios [governo da igreja] se tornaram bastante volumosos. Tem muita coisa aí a ser reparada, muita gordura para queimar.
É preciso reformar a Cúria, que se tornou muito pesada. Me refiro principalmente ao segundo escalão, o grupo intermediário, que é fixo, como se fosse de carreira.

Muitos analistas dizem que foi precisamente a incapacidade de administrar a Cúria que ajudou o papa a tomar a decisão de renunciar...
O papa ficou oito anos e, naturalmente, também sentiu o peso da saúde. Não digo incapacidade, Deus nos livre. O fato é que, como teólogo, em suas meditações e homilias, ele o fez com perfeição. Mas há o momento em que é preciso também administrar.

O próprio papa, na sua homilia da Missa de Cinzas, disse que as divisões "desfiguram o rosto da igreja". Essas divisões são tão profundas assim?
Cada um deve estar fazendo seu próprio exame de consciência, como ele o fez. Cada um deve examinar como exerce seu ministério, em qualquer estágio de trabalho, na Cúria, como bispo.

Inclusive os cardeais?
Sim, todos os cardeais.

O sr. é favorável à antecipação do conclave ou acha melhor observar os 15 a 20 dias de "sede vacante" [a partir da saída do papa, no dia 28]?
Como não houve renúncia em mais de 600 anos, o período de 15 a 20 dias levava em conta os nove dias de luto pela morte do papa. Como não é o caso agora, o período pode ser abreviado, sem dúvida.
Grande número de cardeais estará em Roma até o dia 28, para se despedir do papa. Se houver número suficiente deles, basta dar alguns dias para a preparação técnica.

Como funcionam os cardeais nesses dias prévios ao conclave? Consultam uns aos outros sobre os candidatos?
Ninguém está proibido de conversar, mas a apreciação dos nomes deve ficar para o próprio conclave. No anterior [2005], ninguém me disse "vote em fulano".
De todo modo, estaremos em um ambiente que respira o que a igreja está vivendo e reagindo. É bom encontrar colegas de outros países e discutir quais são os principais problemas da igreja.

Há quem diga que, se o conclave demorar demais, ficará ainda mais exposta a divisão na igreja. O que o sr. pensa?
O conclave pode não ser muito rápido, durar só dois ou três dias [o anterior durou dois]. Chegar a quatro ou cinco dias é razoável. Prolongar-se demais não vai acontecer.

Os casos de pedofilia de parte de religiosos causaram choque entre o papa, que queria expor tudo, e setores da igreja que preferiam ocultá-los...
Já com João Paulo 2º e depois com Bento 16, começou um tratamento mais sério dessa questão, que não pode ser tratada com benevolência. Mas é preciso que [a ação do papa] repercuta nas dioceses [que é onde os problemas de fato aconteceram].
O futuro papa, seja quem for, sabe que não terá todos os problemas à mão imediatamente, mas apenas os urgentíssimos...

O caso da pedofilia não é urgentíssimo?
É improvável que seja tratado logo após a eleição. Depois, sim, pode ser que alguém apareça com um pedido para tratar do assunto.

A geografia pesa na escolha dos cardeais, a ponto de se falar de um papa sul-americano ou africano?
A escolha não é pela geografia. O que se analisa é quem está mais preparado para exercer esse ministério.


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