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Clóvis Rossi

Grillo, revolução ou bolha?

Por enquanto, está em curso uma mudança na "gramática da análise política", diz jornalista

MILÃO - Já na noite da apuração na Itália, Concita de Gregorio ("La Repubblica"), espantada com a espetacular votação do Movimento 5 Estrelas, do humorista contestatário Beppe Grillo, dizia que esse fenômeno obrigaria a "mudar a gramática da análise política".

É uma avaliação talvez precipitada, se se considerar que o mundo já viu a ascensão de vários movimentos de contestação ao establishment para, logo depois, vê-los murchar, flores de uma só primavera.

Não sei se as 5 Estrelas se apagarão logo ou de fato forçarão uma mudança na maneira como analisamos a política. Por enquanto, permanece o fato de que o que ocorreu na Itália tem uma dimensão extraordinária, com repercussões que claramente vão além deste país.

Primeiro, trata-se da primeira vez em que uma agrupação consegue se tornar a mais votada (considerados os partidos individualmente, não as coligações) em sua primeira experiência nas urnas, pelas contas de Alessandro Chiaramonte, da Universidade de Florença.

Há mais dados eloquentes: um de cada cinco jovens que votaram pela primeira vez o fez por Grillo.

O M5S foi o principal responsável por outro número impressionante: 16 milhões de eleitores mudaram de partido entre a eleição de 2008 e a de 2013, segundo pesquisa da empresa Manheimer.

Como os eleitores são 47 milhões, mas apenas 35 milhões votaram (arredondando os números), tem-se que os, digamos, "traidores" foram mais ou menos 45% do total.

Evidência brutal do fracasso da política tradicional, de resto admitida até por um dos mais tradicionais políticos italianos, Pier Luigi Bersani, líder do Partido Democrático e da coligação mais votada para a Câmara e para o Senado.

Um fracasso que leva até um empresário muito amigo de Silvio Berlusconi, o inoxidável líder da direita, a pensar em apoiar Grillo como eventual primeiro-ministro, a partir do seguinte argumento: "Não creio que Grillo seja mais estúpido do que aqueles que tivemos até agora", disse ao "Corriere della Sera" Leonardo Del Vecchio, dono da Luxottica e residente em Monte Carlo, para fugir aos impostos italianos.

Outro empresário -Franco Moscetti, administrador-delegado da Amplifon, líder em aparelhos acústicos- também muda a gramática da análise política ao dizer que "Grillo e os seus estão antecipando o futuro. A eleição do presidente da República via internet virá certamente. Eles compreenderam o valor/poder das novas tecnologias e estão se projetando no futuro, enquanto os partidos tradicionais estão impregnados dos ritos e da liturgia do passado".

Se o empresariado, a fatia mais relevante das elites que Grillo repudia com uma veemência extraordinária, começa a usar a tal "nova gramática", há duas possibilidades: ou estão se preparando para cooptar Grillo ou para aceitar uma mudança na gramática política.

Se ocorrer a segunda hipótese, haverá consequências além-fronteiras. Como escreve Miguel Mora para "El País": "O grito que vem da Itália é o primeiro sintoma de uma dissidência de massa".


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