São Paulo, quarta-feira, 01 de janeiro de 2003

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ARGENTINA

Melhora econômica e pacificação do país ampliam o cacife do presidente contra Menem na disputa presidencial

Após um ano, Duhalde capitaliza "verãozinho" argentino

30.dez.2002/France Presse
O presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, saúda funcionários em mensagem de Ano Novo


MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

O presidente argentino, Eduardo Duhalde, completa hoje um ano no poder. Não é pouco para quem assumiu o que era então considerado o governo mais fraco da história argentina. Durante os últimos 12 meses o país passou pela pior crise econômica que já enfrentou, e Duhalde conseguiu sobreviver a ela.
A crise ainda não acabou, mas os partidários do presidente avaliam que seu desempenho foi bom o suficiente para garantir-lhe mais tempo no poder.
Nas últimas semanas, vários políticos do PJ (Partido Justicialista), o partido de Duhalde, afirmaram direta ou indiretamente que a única maneira de evitar que o ex-presidente Carlos Menem (1989-99) volte ao poder é lançar a candidatura de Duhalde.
Duhalde nega que será candidato, diz que empenhou sua palavra quando declarou que deixaria o poder em maio deste ano e que nada o fará mudar de idéia. Mas, ao mesmo tempo, trava uma batalha de morte contra Menem, tentando, a todo custo, evitar que o ex-presidente consiga ganhar as eleições internas do PJ.
O atual presidente se empenha para encontrar um candidato dentro do PJ com chances de derrotar Menem. Mas seu nome favorito, Carlos Reutemann, governador da Província de Santa Fé, descartou a hipótese de se candidatar. Por hora, Duhalde não tem a quem apoiar, e não são poucos, entre os seus partidários, os que insinuam que a melhor maneira de resolver o imbróglio seria adiar as eleições para outubro e lançar a candidatura de Duhalde.

Capital político
Para os duhaldistas, o presidente pode capitalizar politicamente os "êxitos" de sua administração. Entre tais triunfos estaria a pacificação da Argentina. Quando Duhalde assumiu, os argentinos estavam nas ruas, batendo panelas, exigindo que "todos os políticos fossem embora".
Doze meses depois, os protestos diminuíram, a classe média parece ter desistido das panelas, e um plano social que garantiu subsídios para os desempregados reduziu os conflitos nas regiões mais pobres do país.
Outro êxito importante, a recuperação econômica do país, pode se concretizar nas próximas semanas. A economia argentina parou de encolher, e, caso nenhum sobressalto a abale nos próximos meses, a maioria dos analistas prevê que 2003 venha a ser um ano de recuperação.
Em janeiro, o país deve fechar um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Será um acordo de curto prazo, válido apenas no primeiro semestre. No segundo, o novo governo negociaria outro acordo. Mas, de qualquer maneira, o presidente, caso consiga realmente assinar o acordo, poderá dizer que conseguiu evitar que o país desse o calote nas instituições internacionais. Em novembro, a Argentina deixou de pagar uma dívida do Banco Mundial. Sem um novo acordo, o país continuaria inadimplente com essa instituição e deixaria de pagar a outros credores importantes, como o próprio FMI e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Parte dos argentinos é cética em relação à melhora econômica -tanto que a apelidaram de "verãozinho", uma época agradável que pode acabar a qualquer momento. Mas o governo avalia que o ceticismo cederá à medida que os indicadores econômicos continuarem melhorando.
A pacificação da sociedade argentina, o restabelecimento do diálogo com a comunidade internacional e o "verãozinho" econômico são o principal capital político do presidente. É com essas armas que ele conta para derrotar Menem, seu principal inimigo político. Será uma briga, dizem os analistas argentinos, que poderá rachar o maior partido do país. Duhalde vai mais longe e diz que, se Menem ganhar, a Argentina sofrerá uma fratura social.



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