São Paulo, segunda-feira, 01 de janeiro de 2007

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Túmulo de Saddam atrai seguidores

Ditador é enterrado em sua aldeia natal; vídeo que mostra algozes xingando Saddam no enforcamento acirra tensões

Enterro teve poucas testemunhas e foi realizado na madrugada de ontem, após helicóptero americano transportar o corpo

Bassim Daham/Associated Press
Iraquianos sunitas lamentam a morte do ditador Saddam ao lado do seu túmulo, em Awja, vilarejo a 130 km ao norte de Bagdá

GHAZWAN AL JIBOURI
DA REUTERS, EM AWJA

Jurando vingança, centenas de sunitas seguidores de Saddam Hussein foram ao túmulo do ditador iraquiano em sua aldeia natal, Awja, onde ele havia sido enterrado na madrugada de ontem, após a execução em Bagdá.
Demonstrando ressentimento contra o atual governo, liderado por um xiita e responsável pelo enforcamento do ex-ditador, os seguidores de Saddam se ajoelharam e rezaram ao redor do túmulo, coberto por uma bandeira do Iraque.
As paixões sectárias que têm levado o Iraque a um guerra civil desde que as tropas lideradas pelos EUA derrubaram Saddam, em 2003, podem ficar ainda mais inflamadas por causa de um vídeo divulgado na internet mostrando funcionários do governo xiita ridicularizando Saddam durante a execução.
"Os persas o mataram. Não posso acreditar nisso. Por Deus, vamos nos vingar", disse um homem morador de Mossul, usando um termo usado por sunitas para descrever os xiitas, cuja linha religiosa é a mesma da predominante no vizinho Irã.
"A única coisa que podemos fazer agora é atacar os americanos e o governo", disse outro simpatizante, que parou ao lado do túmulo, localizado na sala de mármore de uma mesquita no vilarejo de Awja, perto da cidade de Tikrit. Um retrato de um sorridente Saddam com o seu tradicional chapéu foi colocado sobre uma cadeira.
Grupos de dezenas de sunitas se revezavam na sala para homenagear Saddam, condenado à morte pelo assassinato de 148 xiitas, em 1982. Foram servidos café e chá de menta na sala ao lado, onde se referiam ao ex-ditador com um mártir da ocupação americana.
O governo havia indicado que Saddam poderia ser enterrado em local não identificado, temendo que seu túmulo se tornasse um local de peregrinação para seus partidários.
Mas, depois do pedido da tribo de Saddam para que o corpo do ditador fosse enterrado em Awja, um helicóptero americano levou os restos mortais para Tikrit, onde foi entregue em um caixão a autoridades locais.
O corpo de Saddam foi mais tarde levado para Awja, num carro da polícia, e enterrado por volta das 3h30 locais de ontem, depois de ter sido lavado e coberto com um manto branco, dentro do ritual muçulmano. Uday e Qusay, os filhos de Saddam mortos pelos americanos em 2003, também foram enterrados em Awja.
O enterro foi presenciado por poucas pessoas. Funerais simbólicos foram realizados em outras cidades sunitas.
Ignorando a hesitação de membros sunitas e curdos do seu governo, o premiê Nuri al Maliki apressou a execução de seu antigo inimigo, em manobra que agradou aos xiitas. Há, no entanto, o temor de que isso possa exacerbar ainda mais a ira sunita.

2.999º
Um soldado norte-americano foi atingido por uma bomba anteontem à tarde em Bagdá, elevando para 2.999 o número de militares dos EUA mortos desde a invasão do Iraque, em março de 2003. Foi também o 110º soldado a morrer em dezembro, fazendo do mês passado o mais mortal para forças militares norte-americanas dos últimos dois anos.
O número de 3.000 militares americanos mortos será provavelmente considerado mais um marco para os americanos, mas é menor do que o número de civis iraquianos mortos por mês no último semestre de 2006, segundo estatísticas da ONU. Ontem, 12 corpos com sinais de tortura foram encontrados e duas crianças morreram num ataque com foguete em Bagdá.


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